tag:blogger.com,1999:blog-61142745470418241522024-03-12T15:30:06.705-07:00o ex-mágicoAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.comBlogger155125tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-78140444747208302972016-09-09T09:49:00.001-07:002016-09-09T09:49:20.254-07:00Um conto sobre dias muito loucos<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Do lado externo de um prédio, piscava a frase FORA TEMER. Alguém havia projetado de um prédio próximo. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Como muitos que estavam naquele protesto fizeram, eu tirei o celular para tentar fotografar. Por algum problema, a foto não ficava boa. Tentei de novo, de novo, de novo. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Sinto uma mão sobre o celular e, quando vejo, uma bicicleta. Havia acabado de presenciar aquela cena, naquele mesmo protesto. Um sujeito passando de bike a toda velocidade, alguém gritando ladrão, ladrão, ladrão. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">Não, aquilo nunca aconteceria comigo. Eu podia ficar em paz com o celular que custa metade do meu salário, aquilo não aconteceria comigo. Moro no centro, sou da periferia, os ladrões reconheceriam isso. </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">Sou um repórter, tenho que registrar, os ladrões reconheceriam isso. E aquela mão levando o celular, eu correndo atrás da bicicleta, eu jogando um objeto nas costas do ladrão. </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">Eram dois ladrões, eu joguei o capacete que levava comigo, um capacete de skatista que o jornal onde eu trabalho dava para impedir que eu morresse como aquele cinegrafista do Rio de Janeiro, o Santiago, para impedir que alguém jogasse um rojão e estourassem minha cabeça. </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">O capacete bateu em cheio nas costas do ladrão, mas era um capacete de plástico. O ladrão entrou numa descida e desapareceu. Ignorou que eu moro no centro, que eu cresci na periferia, que eu sou repórter, preciso registrar, ignorou meu capacete. </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">Uma ativista que eu sempre vejo nos protestos veio trazer meu óculos,</span><span style="text-indent: 0.63cm;"> isso está acontecendo toda hora aqui, ela disse. </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">Um sujeito de bigode e boné, uma Heinekein na mão, perguntou onde eu trabalhava. Eu disse: no jornal tal, um jornal da tal grande mídia, o que significa que nas ruas é como se eu fosse do Império, o próprio Dart Vader. </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">Então mereceu, ele disse. E depois: é isso que acontece quando se vai pra rua, mereceu. Um sujeito de bigode e Heinekein, provavelmente criado num apartamento, falando sobre rua comigo, que jogava bola descalço no asfalto. </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">Eu gostaria de ter dito que faz mais de uma década que estou na rua, que já estive em barracos com traficantes e entrei em prisões, que já vi amigos serem mortos nas ruas, que fui officeboy no centro. Mas o sujeito criado em apartamento via em mim um grande executivo da comunicação. </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">Eu pensei em dar um soco nele, mas depois lembrei: estou trabalhando, vou perder o emprego. A essa hora o ladrão já está longe, a essa hora já deve estar jogando Pokemón Go com meu celular. </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">Você não me conhece, não vou discutir com você. Um fotógrafo do meu jornal passou a discutir com o cara, eu fui embora. </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">Eu estava suado, com cara de idiota, a cara de idiota das pessoas que são roubadas na rua. </span><span style="text-indent: 0.63cm;">Quando cheguei na redação, ninguém ligou para o meu celular roubado. A presidente da república havia acabado de cair, foda-se o meu celular, foda-se a zona leste, foda-se que você foi officeboy e jogou bola descalço. </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
O GPS do celular havia sido desligado, mas eu mandei uma mensagem para o ladrão: ladrão de merda, vou te buscar aí na favela do Moinho. Favela do Moinho fica perto do meu trabalho e, mesmo na minha cabeça que se diz livre dos preconceitos, é ali que os ladrões moram. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Eu, que já fiz várias matérias denunciando violência policial, fantasio com a Força Tática entrando lá e matando os dois. Fantasio comigo dizendo algo a eles, presos, espancados na delegacia. Agora, vão comer marmita estragada na prisão, seus bostas. Sinto que posso dizer algo melhor, mas não consigo pensar em nada. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Nos dias seguintes, entro várias vezes no aplicativo que localiza o celular, mas o GPS continua desligado. Os ladrões, ao desligarem o GPS, ignoraram toda a minha história. Os ladrões e o bigodudo. Os ladrões e a presidente que caiu e levou junto meu celular. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Fantasio a mim mesmo descobrindo quem é o bigodudo. Eu sou repórter, descubro qualquer um, de verdade, levanto seu patrimônio, sua vida, seu prontuário médico, tudo. Vou deixar uma carta enigmática na casa dele, vou fazer ligações ameaçando o bigodudo. Não, vou dizer a ele que bosta de ser humano ele é por comemorar o fato de alguém ter sido roubado. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Escrevo um post no Facebook sobre isso, muitas pessoas compartilham. Eu me pergunto se o bigode leu aquilo, se se sentiu mal. Eu me pergunto o motivo de ninguém me dizer: por que você está fazendo tanto drama por causa de um celular? É mesmo por causa de um celular? Não é só por 20 centavos. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Só falo sobre isso, ninguém mais quer almoçar comigo no trabalho. As pessoas devem estar lendo este conto e dizendo para si mesmas: esse cara enlouqueceu, daqui a pouco vai fazer um crowdfunding pedindo um novo Iphone 6, como a Bel Pesce da hamburgueria. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">Uma semana depois, quando já estava esquecendo do assunto, encontro o bigode em um novo protesto. Ao contrário do que havia planejado, não digo nada a ele. Ele olha na minha cara, eu olho na dele, sinto que ele está sem graça. Está ao lado de um sujeito que trabalhou no mesmo jornal que eu, alguém que, na visão dele, merece ser roubado, morto, incinerado.</span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Não, não quero exigir coerência de um desses sujeitos que faz fotos por lazer, que não tem de pagar a mensalidade da casa, que não nunca pisou numa prisão ou numa favela, que não é da zona leste. Quero que ele saiba a verdade, só isso. Qual é a verdade?<span style="text-indent: 0.63cm;"> </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<span style="text-indent: 0.63cm;">Durante algum tempo, eu o observo. Ele picha um ponto de ônibus, dá risada, fala com os amigos. De vez em quando, olha pra mim. </span></div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Eu o filmo pichando o ponto de ônibus e penso em mandar o vídeo para a polícia. Descubro quem o sujeito é no Facebook, mando para a polícia, eu planejo. Ele vai se arrepender do que disse, eu sou da zona leste, eu registro porque sou repórter, vão comer marmita estragada na prisão, seus vermes. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Imagino a mim mesmo batendo na cara dele com uma máscara de gás que levo aos protestos. Batendo nele e no sujeito que pegou meu boné e mandou todos os moleques da escola cuspirem dentro quando eu tinha 14 anos.</div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Sou escorpiano, não esqueço nunca. Não acredito em horóscopo, apesar de ler todos os dias o horóscopo personalizado, feito com base na minha lua natal, sol e ascendente. Mas também leio o horóscopo do jornal, nada personalizado, só porque fica do lado das tirinhas. Às sextas, a pessoa que escreve o horóscopo sempre me manda transar. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
O bigode vai embora, devagar, não corro atrás dele nem atiro meu capacete. Os ladrões já devem ter roubado uns 50 celulares na semana que passou, os protestos crescem, o novo presidente fala em 12 horas de trabalho por dia, reforma da previdência. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
Imagino o presidente de bigode, pedalando uma bike a toda, cuspindo no meu boné, eu jogando uma garrafa de Heinekein nele pelas costas, a zona leste me aplaude, os officeboys, muitos likes no Facebook, meu celular reaparece misteriosamente na porta de casa, horóscopo dizendo que o sol entrou no meu signo, prenunciando uma era dourada na minha vida, uma era de pacificação e sexo. </div>
<div style="font-family: HelveticaNeue; font-size: 18px; text-indent: 23.811023712158203px; white-space: pre-wrap;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-90609572645186234812016-04-15T13:43:00.003-07:002016-06-18T16:52:28.277-07:00Encapuzados<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
<a name='more'></a><div style="text-align: justify;">
Afrânio pediu um
filé mignon mal passado. Heloísa escolheu o penne de melão com
presunto, uma especialidade da casa.</div>
</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Os olhos de Afrânio
passeavam pelo restaurante, mesas e paredes eram todas de vidro, e
voltavam para o pedaço de carne sangrento.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Heloísa mexia no
celular, enquanto jogava um pedaço de melão para um lado e para outro no
prato.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Era fim da noite de
segunda-feira, havia apenas mais quatro casais no restaurante, e os
funcionários se concentravam na cozinha.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Você acha que a
fusão vai dar certo? – ela perguntou, olhando o celular.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Ele continuou
olhando para a comida. Cortou com força a carne, uma gotícula de
sangue respingou na camisa branca dele.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Vai depender do
puto do Marco fazer a parte dele.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Heloísa ajeitou no
prato um penne, um pedaço de presunto, e levou à boca. Depois, deu
uma garfada no melão.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Nenhum dos dois
percebeu quando os encapuzados cercaram a mesa. Eram oito homens,
todos vestindo roupa preta e coturnos.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Vai, encosta
ali, vai, vai – um deles puxou Afrânio pela camisa.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Puta que pariu – Afrânio retrucou.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– É o quê? – o
encapuzado perguntou, empurrando com força.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Nada, nada –
Afrânio andou até a parede onde estavam todos os outros casais de
costas. Heloísa seguiu ao lado dele, roendo a unha do dedão
esquerdo.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Um dos encapuzados
empurrou o único garçom à vista para a cozinha. Lá, estavam todos
os demais funcionários.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Um dos homens passou
recolhendo os celulares dos casais. Eram doze aparelhos para dez
pessoas.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Carteira de
motorista – um dos encapuzados ordenou, e foi recolhendo os
documentos de todos.<br />
<br />
Afrânio entregou a carteira de habilitação,
sem desencostar a cabeça da parede de vidro à sua frente.<br />
Estava
entretido com o vapor que saía da boca. Aqueles caras pegariam o
dinheiro e sairiam logo. Não conseguia deixar de pensar na
transação.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Um dos homens voltou
com os documentos do primeiro casal nas mãos.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Esses aqui tão
limpos – disse para outro encapuzado, que parecia ser o chefe do
grupo.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Pra cozinha,
vai, vai, antes que eu mude de ideia – falou, empurrando os dois.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
Passaram poucos
minutos até que o homem voltasse com todos os documentos.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
– Esse aqui deu
evasão de divisas, encosta ali.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
O homem foi colocado
num canto.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
– A mulher dele
não deu nada.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Não, mas bota
ela lá com ele.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
O casal obedeceu sem
protestar. Outro homem, um sujeito gordo de camisa polo, virou-se
para os criminosos:</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Por que vocês
não pegam o dinheiro e saem fora logo?</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Encosta,
caralho! – um dos sujeitos deu uma coronhada na cabeça do gordo de
polo. O sangue escorreu por todo rosto.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– E esse gordo
aqui ? – o chefe dos encapuzados perguntou.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Ele não deu
nada, mas a mulher deu improbidade.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Ela não foi
condenada, tá correndo em primeira instância!</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Cala a boca,
encosta ali com essa puta da tua mulher, vai!</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
O homem não se
mexeu. Abraçou a mulher e olhou o encapuzado nos olhos.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
Afrânio olhava para
os próprios pés quando ouviu, primeiro, a explosão da arma e,
depois, os vidros estilhaçando.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
Antes que o homem
caísse no chão, os encapuzados deram vários tiros nele e na
mulher. Também seguiram em direção ao casal ao outro casal e
apertaram o gatilho várias vezes.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
Heloísa choravam
baixinho, uma poça de urina se formou sob os sapatos dela. Uma
mulher ao lado dela dizia: por favor, não me machuquem.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Fica de boa, vai
pra cozinha, dona – o encapuzado-chefe disse para a mulher.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
Ela e o marido
obedeceram. Seguiram em passo acelerado.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Devagar,
devagar.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
Eles diminuíram a
marcha e entraram na cozinha.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
Sobraram apenas
Afrânio, Heloísa e os encapuzados. Ele se adiantou e disse:</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Eu tô limpo
também, pode checar aí, não tem nenhum processo contra mim, não
tô devendo nada.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Senhor –
ordenou o homem.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Sim, senhor.
Desculpa... Eu tô limpo, pode ver, pelo amor de Deus – disse
Afrânio, há tempos não pronunciava essa palavra: Deus.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
O líder olhou para
o sujeito que fazia as checagens.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Nada consta –
disse o homem.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Afrânio respirou
aliviado, Heloísa desmaiou.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
– Não, pera aí.
Ele caiu na malha fina.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-87675582062781564602015-02-16T13:40:00.002-08:002015-02-16T13:40:07.251-08:00Poema de carnavalSegunda-feira de carnaval
Sou um navio fantasma, à deriva
Que se choca com embarcações coloridas e barulhentas
A marchinha distante e melancólica se perde na névoa intransponível
Lalalá, larilalalá
Um borrão
O barulho da água movendo-se, profunda e escurecidaAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-59923010144915997112015-01-08T10:26:00.002-08:002015-01-08T10:29:21.894-08:00A baleia<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-R0mCLAH5TB4/VK7LylZvf_I/AAAAAAAAF_s/BACMGgZHJX0/s1600/animais-cometem-suicido-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-R0mCLAH5TB4/VK7LylZvf_I/AAAAAAAAF_s/BACMGgZHJX0/s1600/animais-cometem-suicido-1.jpg" height="212" width="320" /></a></div>
<br />
Quando a baleia encalhou na praia, não havia quase ninguém. Foi chegando
como um estrondo, esguichando água para o alto e rangendo como um
navio. Era enorme, sua sombra projetou-se sobre a areia e esticou-se
pela praia.<br />
<br />
Quem se aproximou primeiro do animal foi um moleque. Era
um moleque preto de sol, magrelo, que corria sozinho de um lado para o
outro e deu de cara com o bicho. Ele se aproximou sem muita coragem, o
gigante debatia-se, a cauda fazendo chover sobre sua cabeça. O menino
tentava se aproximar e tocá-la, sem nunca cumprir seu intento.<br />
<br />
Depois chegou o casal de turistas. Era um sujeito grisalho, de óculos,
pinta de intelectual, muito magro, vestindo uma bermuda e uma camisa
florida. Parecia um gringo, mas era brasileiro, falava em português com a
mulher que o acompanhava. Ela era pelo menos dez anos mais jovem,
magra, o cabelo muito liso preso num rabo de cavalo.<br />
<br />
O casal vinha
caminhando pela praia quando deu de cara com o animal. O menino não
estava mais lá, havia saído correndo com pressa minutos antes. Ambos
pareciam maravilhados com aquele vulto negro de pele viscosa. O homem
pegou o telefono celular e ligou para alguém.<br />
<br />
Nesse meio tempo o
moleque voltou com dois adultos, ambos munidos de facões. Antes que os
dois se aproximassem, o homem grisalho se postou na frente deles,
tentava impedir que se aproximassem. Houve uma discussão acalorada.<br />
<br />
O
moleque observava a discussão de longe, assim como a namorada do homem
grisalho. Ambos pareciam amedrontados e intimidados. A baleia gritava,
como se fosse um humano com a barriga aberta de uma ponta a outra.<br />
<br />
Havia também o pescador calado. Ele observava a discussão e, por vezes,
andava de um lado para o outro. Parecia estar com pressa, precisava
voltar logo ou tinha vontade de ir ao banheiro. Batia o pé direito no
chão.<br />
<br />
Os dois homens pareciam perto de chegar a um acordo quando o
segundo pescador se aproximou dos dois e enterrou o facão na barriga do
homem grisalho. A mulher gritou, mas a voz dela foi encoberta por um
gemido agudo dado pela baleia, fazendo a cena parecer a um filme mudo.<br />
<br />
O menino observava tudo em silêncio, enquanto o segundo pescador se
afastava, ora com pressa ora calmamente. Não olhou para trás.<br />
<br />
O
primeiro pescador pegou o menino pelo braço e se afastou correndo. A
maré estava subindo e as ondas agora encobriam o gemido da baleia, cada
vez mais baixo, e os gritos da mulher, cada vez mais altos.<br />
<br />
A mulher
arrastou o homem, a duras pelas, pela areia. Ela caía, levantava e
continuava a arrastar o sujeito. O sangue dele deixava um rastro
avermelhado, que aos poucos ia desaparecendo. Ela demorou a desaparecer
da praia.<br />
<br />
Não havia mais ninguém quando eu me aproximei. O mar havia
se acalmado, as águas estavam reluzentes e mais azuis do que nunca. O
vento arranhava meu rosto.<br />
<br />
Cheguei bem perto da baleia, ela gemia
baixinho. Tinha a pele muito brilhante, de um cinza azulado. Era a coisa
mais linda que eu havia visto na vida. Então eu coloquei a mão na
cintura, peguei minha pistola 380 e mirei bem naquela cabeçona. Olhei
por alguns segundos para aqueles olhos tão tristes e pequeninos e
apertei o gatilho. Só parei quando as balas acabaram. Foram quinze ou
dezesseis tiros.<br />
<br />
Não quis mais olhar para o que havia restado da
baleia, ela ainda gemia, um som quase imperceptível, mas eu não tinha
mais balas.<br />
<br />
Virei as costas e ouvi o mar rosnar atrás de mim.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-66967417127324715562014-01-04T13:14:00.002-08:002014-01-04T14:01:00.038-08:00A cópia<br />
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Ana só queria ter um interruptor no próprio corpo. Assim, poderia desligar-se assim que chegasse do trabalho e descansar até o dia seguinte. Como esse dispositivo ainda não havia sido inventado, depois do expediente de 16 horas na redação ainda era obrigada a atender telefonemas sobre as reportagens do dia e da manhã seguinte.<br />
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Depois de uma dessas ligações, para avisar que teria de entrar duas horas mais cedo no dia seguinte, tentou se esconder do mundo dentro de uma folha de jornal. Após alguns segundos submersa, ela retirou o jornal da cabeça e, por acaso, teve a atenção pescada por um anúncio dos classificados. A propaganda dizia: "Acha que o dia deveria ter 48 horas? Adquira seu próprio clone".<br />
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A princípio, pensou que aquilo daria uma boa matéria. De noite, sonhou consigo mesma dividida em vinte partes, todas ela indecisas sobre qual roupa usaria ou se aquela cor de batom era a correta. Foi interrompida pelo interfone, que estava quebrado e mais parecia um peido a ecoar pelo apartamento de 60 metros quadrados na Santa Cecília.<br />
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Era o motorista do jornal. Ela desceu sem tomar café da manhã e deu um bom dia descabelado ao motorista do Renault prata que a esperava. Assim que o homem deu partida no veículo, encostou a cabeça no vidro do veículo e dormiu, cabeça trepidando no vidro pelas ruas esburacadas. A missão do dia era, com a ajuda de um pé de cabra, vistoriar trezentos bueiros da cidade para a seção Guardião, do diário em que trabalhava, o jornal popular Pra Já.<br />
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Conseguiu vistoriar apenas 237 bueiros, dos quais apenas cinco encontravam-se em condições satisfatórias. O anúncio sobre o clone já havia se esvaído em meio à bosta e aos ratos que vira durante todo o dia e naufragaria ali mesmo não fosse uma nova ligação. A chefia informava que a pauta dos bueiros seria cancelada por ordem, e sem explicações, do diretor de redação. No lugar, ela teria que verificar no dia seguinte a situação de quinhentas lixeiras da cidade.<br />
<br />
Abriu um jornal do dia que estava no banco traseiro do veículo. Ligou no impulso, sem esperar nada. A atendente era boa de papo e prometeu-lhe que o pagamento seria suaves prestações, durante vinte anos, e ainda ganharia uma máquina de fazer pipoca para desfrutar junto com o clone nos momentos de folga. Estava decidida a dizer não, mas, ao ver que a redação ligava para ela novamente, mudou de ideia. Em no máximo cinco dias úteis, prometeu a atendente, o clone estaria no endereço dela. Era preciso estar em casa para assinar e receber o manual de instruções.<br />
<br />
A entrega chegou depois de três dias. De fato, o material era de boa qualidade. Assim como ela, uma jovem de vinte e quatro anos, um metro e sessenta, cabelos curtos e lisos na altura do ombro. Tinha um olhar de surpresa como o dela, com a diferença de que estava totalmente descansado. Como era filha única, Ana teve a sensação de ter ganhado uma irmã. Na primeira noite, as duas foram dormir tarde depois de passar horas pintando as unhas de cores iguais.<br />
<br />
Ana precisava acordar cedo. O clone só passaria a trabalhar na outra semana, depois que ela explicasse os detalhes do trabalho. Se bem que no manual constava que o clone possuía exatamente as mesmas habilidades que ela e ainda outras que haviam sido incluídas, como assoviar e fazer contas de divisão com vírgulas.<br />
<br />
O clone insistiu em começar antes.<br />
<br />
- Não aguento mais ficar enclausurada nessa casa sem fazer nada. Você precisa arrumar algum hobbie e me deixar trabalhar.<br />
<br />
De fato, Ana ainda pensava o que faria no tempo livre. Como o manual dizia que o clone tinha limitações caso colocado sob carga de trabalho extenuante, ela havia definido que trabalharia dia sim, dia não. Sua cópia faria o mesmo. Isso evitaria sobrecarregar a outra e ainda dava tempo para que ela começasse a natação, o boxe, a patinação, o piano e as aulas de gastronomia, como sempre havia sonhado.<br />
<br />
No primeiro dia de trabalho do clone, Ana deixou o próprio celular com ela e prometeu ficar em casa de prontidão. Qualquer problema, dúvida, qualquer coisa, era só ligar. Não foi preciso.<br />
<br />
A cópia ganhou elogios do editor. Escrevia bem e era tão cuidadosa quanto ela com as informações. No primeiro dia de trabalho, passou-se por parente de um doente em um hospital e flagrou uma situação de completo abandono dos pacientes, em macas no chão e sem as mínimas condições de trabalho.<br />
<br />
Em casa, as duas combinavam as reportagens que fariam no dia seguinte. A visibilidade de Ana duplicou dentro do jornal e, finalmente, ela recebeu seu primeiro aumento. Nos fins de semana em que não trabalhavam juntas, as duas saíam à noite e se divertiam com as cantadas que as gêmeas recebiam na balada. Uma noite, Ana acabou voltando para casa sozinha depois que a outra resolveu sair com um carinha que as duas haviam achado uma graça.<br />
<br />
O telefone dela tocou logo cedo.<br />
<br />
- Onde está você, Ana, esqueceu do trabalho?<br />
<br />
Ela havia acabado de chegar da academia. Como não conseguiu fazer contato com a cópia, correu para o jornal bolando a desculpa para o atraso. Inventou que estava em uma consulta médica e chegou toda esbaforida. Não via a hora de chegar em casa para dar um esporro daqueles no clone.<br />
- Você me deixou na mão - disse para a outra.<br />
- Estou de saco cheio de ficar sendo escravizada. Para você levar o mérito!<br />
- Nós duas levamos o mérito!<br />
- Não, só você leva, é o seu nome que sai lá. Eu não tenho nem nome.<br />
A outra saiu batendo a porta. Voltou depois de alguns minutos, com a mão estendida.<br />
- Preciso de algum adiantado para o hotel?<br />
- O hotel? E o que eu te dei ontem?<br />
- Querida, o custo de vida de São Paulo é um dos mais caros do mundo. Você não leu a nossa matéria no jornal da semana passada? Matéria, aliás, que eu fiz para você.<br />
<br />
Ana deu à outra tudo que tinha na carteira. Nos dias seguintes, não conseguiu fazer contato com ela. Foi ao trabalho todos os dias, como antes, com medo de que a cópia não desse as caras. O instinto dela havia acertado. Assim como ela, o clone devia ser do signo de touro.<br />
<br />
- Aquela cabeça dura!<br />
<br />
Até que estava aliviada em se livrar daquela víbora mal agradecida. Pediria seu dinheiro de volta e eles que se virassem com aquele clone mal feito. Se fosse uma cópia idêntica, não seria tão preguiçosa!<br />
Dias depois, encontrou uma correspondência do escritório de advocacia de Altemar Gomes e Associados. Era uma notificação extra-oficial de que devia o equivalente a dois anos de salários à cópia. A correspondência contabilizava dias trabalhados pela outra, dias não trabalhados e ainda horas extras, que o jornal não pagava.<br />
<br />
Em um telefonema ao advogado no dia seguinte, desesperada, Ana insistiu em falar com o clone. Só podia estar acontecendo algum mal entendido.<br />
<br />
- Nem pensar. Não pago, não pago nada para essa aí - disse ao advogado.<br />
- Essa era nossa última oferta. Assim que dermos entrada no processo judicial, ficará impossível para a senhora voltar atrás. Passe bem.<br />
<br />
A audiência de conciliação foi um mês depois. O juiz, um homem aparentemente indignado com a exploração sofrida pela outra, não deu chance de defesa para Ana. Se pudesse, o magistrado teria mandado prendê-la. Ordenou um pagamento 25% maior do que o advogado havia proposto. O valor foi mantido por instâncias superiores, que negaram todos os recursos de Ana.<br />
<br />
Para pagar o valor das parcelas, ela acabou tendo de arrumar um bico para revisar textos de uma editora de livro didáticos destinados a escolas públicas. Com bastante frequência, após o expediente, esquecia algumas páginas e deixava passar erros grotescos ali.<br />
<br />
Tamanho era o ódio da outra que passou a tomar calmantes para dormir e anfetaminas para acordar. Às vezes, mais parecia um zumbi. Ainda tentou trabalhar como garçonete nos fins de semana de folga para conseguir mais dinheiro, mas foi despedida após derrubar uma bandeja cheia de taças de vinho sobre duas madrinhas de um casamento.<br />
<br />
Conseguiu cancelar a compra do clone, que tinha garantia anti-emancipação, mas não se livrou dos salários atrasados. Três anos depois de começar a pagar as parcelas, estava prestes a se ver livre das dívidas, quando recebeu um aviso judicial de que os pagamentos seriam estendidos por tempo indeterminado. É que a cópia acabara de ser aprovada no programa de mestrado de jornalismo literário, em Lisboa, como Ana sempre havia sonhado. Deixou a carta de lado e riu, como não fazia há anos, um riso que fazia a barriga doer e os poodles da vizinha latirem.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-8100649737932241702013-11-24T15:56:00.002-08:002013-11-24T15:56:28.376-08:00FiltrosEu abro a janela do meu apartamento no sétimo andar. A chuva ácida toca no meu rosto. É um alívio a água corrosiva que esfria e queima. O céu é preto amarelado, como o fundo de um grande cinzeiro. As luzes das janelas são pálidas, piscam dissimuladas. As cores estão todas erradas. Porque a vida não tem filtros, às vezes é baça, catarata, outras vezes é brilhante demais para enxergar.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-31765757182544946932013-09-14T14:51:00.002-07:002013-09-14T14:51:56.647-07:00Confiram a crítica da revista Rolling Stone<div class="guides detail left" style="background-color: white; border-top-color: rgb(0, 0, 0); border-top-style: solid; border-width: 4px 0px 0px; float: left !important; font-family: Georgia, Arial; font-size: 12.727272033691406px; line-height: 14.545454025268555px; margin: 0px; padding: 2px 0px 0px; vertical-align: baseline; width: 600px;">
<div class="item clearfix" style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; zoom: 1;">
<img alt="O Ato de Riscar um Palito de Fósforo" class="left thumb" src="http://rollingstone.uol.com.br/media/images/medium/2013/09/12/img-1017516-o-ato-de-riscar-um-palito-de-fosforo.jpg" style="border: 0px; float: left !important; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px 20px 20px 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; width: 150px;" /><div class="detail_wrapper left" style="border: 0px; float: left !important; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px 0px 10px; padding: 0px; vertical-align: baseline; width: 420px;">
<h3 style="border: 0px; font-size: 20px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
O Ato de Riscar um Palito de Fósforo</h3>
<small style="border: 0px; color: #d10600; display: block; font-size: 14px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Artur Rodrigues</small><small class="genre" style="border: 0px; display: block; font-size: 11px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Patuá</small><ul class="review_rating clearfix" style="background-color: whitesmoke; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border-bottom-color: rgb(217, 217, 217); border-bottom-style: solid; border-top-color: rgb(217, 217, 217); border-top-style: solid; border-width: 1px 0px; font-size: 12.727272033691406px; list-style: none; margin: 20px 0px 0px; padding: 8px 0px 8px 10px; vertical-align: baseline; width: 420px; zoom: 1;">
<li class="last" style="border: none; float: left; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; width: 420px;"><strong style="border: 0px; float: left; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; width: 145px;">Rolling Stone:</strong><div class="nonrateable clearfix" style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; zoom: 1;">
<img alt="Whole Star" class="star" src="http://rollingstone.uol.com.br/img/icon_star_full.png" style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;" /><img alt="Whole Star" class="star" src="http://rollingstone.uol.com.br/img/icon_star_full.png" style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;" /><img alt="Whole Star" class="star" src="http://rollingstone.uol.com.br/img/icon_star_full.png" style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;" /><img alt="1/2 Star" class="star" src="http://rollingstone.uol.com.br/img/icon_star_middle.png" style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;" /><img alt="Empty Star" class="star" src="http://rollingstone.uol.com.br/img/icon_star_empty.png" style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;" /></div>
</li>
</ul>
</div>
</div>
<div class="recommend" style="background-color: whitesmoke; border: 1px solid rgb(234, 234, 234); font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px 0px 10px; padding: 4px 4px 0px; vertical-align: baseline; width: 600px;">
<ul class="clearfix" style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; list-style: none; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; zoom: 1;">
<li style="border: none; float: left; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="http://www.facebook.com/plugins/like.php?href=http://rollingstone.uol.com.br/guia/livro/o-ato-de-riscar-um-palito-de-fosforo/&send=false&layout=button_count&width=100&show_faces=false&action=like&colorscheme=light&font&height=21" style="border-style: none; font-size: 12.727272033691406px; height: 21px; margin: 0px; overflow: hidden; padding: 0px; vertical-align: baseline; width: 100px;"></iframe></li>
<li style="border: none; float: left; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><iframe allowtransparency="true" class="twitter-share-button twitter-count-horizontal" data-twttr-rendered="true" frameborder="0" scrolling="no" src="http://platform.twitter.com/widgets/tweet_button.1379006964.html#_=1379195467189&count=horizontal&id=twitter-widget-0&lang=en&original_referer=http%3A%2F%2Frollingstone.uol.com.br%2Fguia%2Flivro%2Fo-ato-de-riscar-um-palito-de-fosforo%2F&size=m&text=Guia%20de%20Livro%20-%20O%20Ato%20de%20Riscar%20um%20Palito%20de%20F%C3%B3sforo%20-%20Rolling%20Stone%20Brasil&url=http%3A%2F%2Frollingstone.uol.com.br%2Fguia%2Flivro%2Fo-ato-de-riscar-um-palito-de-fosforo%2F&via=rollingstoneBR" style="border-width: 0px; font-size: 12.727272033691406px; height: 20px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; width: 109px;" title="Twitter Tweet Button"></iframe></li>
<li class="emailprint" style="border: none; float: right; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><a class="email ir" href="http://rollingstone.uol.com.br/enviar/?a=guia&b=guide&c=6373" rel="external" style="background-image: url(http://rollingstone.uol.com.br/img/icon_social_media_small.png); background-position: -52px 0px; background-repeat: no-repeat no-repeat; color: #cf1c00; direction: ltr; display: inline-block; font-weight: bold; height: 16px; margin-left: 5px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-indent: -999em; width: 16px;">E-mail</a></li>
<li style="border: none; float: left; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></li>
</ul>
</div>
<div class="text clearfix" style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline; zoom: 1;">
<div class="author" style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
por <strong style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Maurício Monteiro Filho</strong></div>
<div class="date" style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px 0px 10px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
12 de Setembro de 2013</div>
<b style="border: 0px; font-size: 12.727272033691406px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Repórter policial estreia como contista com bom resultado</b><br /><br />Em texto recente em seu blog, o jornalista Artur Rodrigues diz que “carrega um baderneiro interior, um pequeno anarquista”. Essa inquietação fica evidente em cada página da estreia do repórter como contista. Mas o grande trunfo do livro é a autocrítica. Ele sabe que seu pequeno anarquista tem um forte antagonista, também interior ou, como ele diz, “o sujeito no espelho, buscando diversão, alívio, conforto, felicidade, admiração, seja lá o que for”. É isso que humaniza a visão de Rodrigues sobre os objetos da ficção que escreve – toda ancorada na experiência que carrega como repórter policial. Oscilando entre o realismo quase naturalista e um surrealismo quase verossímil, Rodrigues é como seus personagens: alguém, como qualquer alguém, que age sob o signo do conflito. Não há julgamentos morais: apenas observação. Em “Motoqueiro”, o mais potente dos 18 contos, esse conflito atinge o auge: dois amigos, um traficante e um policial, perseguem uma dupla de motoqueiros matadores de inocentes na periferia. Quando os encontram, vem o choque – trata-se de fantasmas. O policial diz: “Essa porra dessa cidade tá matando a gente”. Ou serão nossos próprios demônios o que nos mata? </div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-3026393256149662242013-08-20T11:33:00.002-07:002013-08-20T11:36:23.299-07:00Divórcio e a reconstrução da realidade<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.objetiva.com.br/arquivos/capas/9788579622328_300_grafica.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://www.objetiva.com.br/arquivos/capas/9788579622328_300_grafica.jpg" width="205" /></a></div>
<br />
Comecei a ler o romance Divórcio, de Ricardo Lísias, na tarde de domingo. Com alguns intervalos para trabalhar e dormir, só fiz isso até a noite de segunda-feira, quando terminei.<br />
<br />
A obsessão do narrador pelo diário da ex-mulher, que encontra por acaso em uma gaveta, contagia o leitor logo nas primeiras páginas. O voyerismo que envolve quem acompanha os registros da ex-mulher e a reação do ex-marido é gradualmente substituído pelo fascínio criado pelo domínio narrativo do autor.<br />
<br />
Por meio de constantes repetições dos trechos, típicas de alguém que está remoendo mentalmente um evento traumático, o personagem vai destrinchando a figura superficial da mulher jornalista e um lado obscuro do jornalismo de entretenimento. Tal qual Chico Buarque, em Construção, reordena as frases e recria significados. <br />
<br />
"Confesso que, logo que li o diário, tive o enorme impulso de mostrar para todo mundo quem de fato é minha ex-mulher. Vejam que moça mais legal. No entanto, logo depois eu me vi morto. Toda minha energia então ficou voltada para me resgatar do que me parecia ser a antessala de um necrotério. A conclusão é obrigatória: a literatura é agora parte vital não apenas da minha vida simbólica, mas até do meu corpo", escreve a certa altura do romance.<br />
<br />
Dessa forma, uma história doméstica acaba se tornando uma experiência metalinguística em que o autor Ricardo Lísias reflete sobre o narrador e o personagem Ricardo Lísias. E é desse excesso de realidade, de eus, que emerge uma poderosa ficção, que, ouso dizer, recria o próprio autor. <br />
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-54883062139610321992013-07-03T07:20:00.004-07:002013-07-03T07:29:59.231-07:00A repercussão de "O ato de riscar um palito de fósforo" <br />
<div>
<b>Confiram abaixo matérias sobre meu livro de contos, "O ato de riscar um palito de fósforo", lançado pela Editora Patuá. </b><br />
<b><br /></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-B8cjn4nxM-o/UdQzZiS8fnI/AAAAAAAACyM/EzKo9_tM08g/s1600/pagina_materia_livro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-B8cjn4nxM-o/UdQzZiS8fnI/AAAAAAAACyM/EzKo9_tM08g/s320/pagina_materia_livro.jpg" width="200" /></a></div>
<b><br /></b></div>
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<b><br /></b></div>
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<b>JORNAL DO COMMERCIO</b></div>
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<b>Artur Rodrigues fala da sua periferia fantástica em novo livro</b></h2>
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<i>O autor paulista criou 18 contos a partir da observação cotidiana de jornalista e da invenção de ficcionista</i></div>
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<i>Publicado em 29/06/2013, às 05h18</i></div>
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Diogo Guedes</div>
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Na epígrafe do livro, uma frase de Murilo Rubião, o escritor e jornalista paulista Artur Rodrigues dá uma pista do objetivo de seu livro, O ato de riscar um palito de fósforo: “Encher a noite com fogos de artifício”. O autor conversou por e-mail com o JC para falar sobre a obra, que tem 18 contos inspirados na sua vivência como repórter de cidades, mas com um olhar que preza pelo fantástico.</div>
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<br /></div>
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<b>JORNAL DO COMMERCIO – O ato de riscar um palito de fósforo nasceu da sua vivência como jornalista. O que retirou dessa experiência cotidiana para os contos?</b></div>
<div>
ARTUR RODRIGUES – A experiência na rua, principalmente como repórter de polícia, ajuda muito no processo de criação. Quando saio para fazer uma reportagem, volto para redação e escrevo os fatos, buscando clareza e o máximo de objetividade possível. A ficção é o que eu não escrevo no jornal. Pode ser um personagem ou o estado de espírito causado por algo que realmente aconteceu. Fica ali, envelhecendo, apurando, virando uma coisa totalmente diferente. Até que a ficção nasce.</div>
<div>
<br /></div>
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<b>JC – Sempre quis escrever também ficção? Quais suas referências literárias?</b></div>
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ARTUR RODRIGUES – Sempre quis escrever ficção, sempre foi o objetivo principal. Quanto às referências, a principal continua sendo Kafka. Nunca nada conseguiu me proporcionar a experiência de estranhamento que ainda me acontece quando leio algo dele. Acho que todos que buscam romper/subverter/desfigurar de certa maneira com o realismo, como Borges, Murilo Rubião, Garcia Marquez, Buñuel, me ajudam a transgredir o excesso de experiências reais que vivo como repórter de Cidades.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<b>JC – Apesar de tratar da realidade de figuras urbanas, O ato de riscar um palito de fósforo não pode ser simplificado como uma prosa social. Como foi equilibrar o realismo dos centros urbanos e a dimensão humana das histórias?</b></div>
<div>
ARTUR RODRIGUES – De fato, em nenhum momento busquei fazer prosa social. Acho que o livro é uma tentativa de desfigurar isso. Ariano Suassuna diz que não é regionalista, que o sertão dele é mítico. Acho que da mesma maneira a minha periferia não é uma periferia realista, é uma periferia fantástica. Os personagens urbanos inadaptados, tentando escapar de algo, da realidade, mesmo nas histórias em que não há nada metafísico acontecendo.</div>
</div>
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<br /></div>
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<b>JC - O jornalismo pode ensinar também a escrever melhor? </b></div>
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ARTUR RODRIGUES - Até certo ponto, o jornalismo pode ensinar a escrever melhor. Ortografia, gramática, pontuação. Mas também é preciso desaprender um pouco para escrever. É preciso desconstruir, ignorar certas regras, fugir do didatismo. No jornalismo, não trabalhamos com o que não escrevemos, com as entrelinhas, entregamos tudo mastigado, na maioria das vezes. O que fica para o leitor intuir, duvidar, a incerteza pode ser o mais importante na prosa de ficção. </div>
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<br /></div>
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<b>JC - De onde surgiu o amplo mosaico de personagens da obra? </b></div>
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ARTUR RODRIGUES - Acho que a variedade de personagens é resultado da convivência pessoal e profissional que tenho com muita gente diferente, o que me proporciona várias visões de mundo. Conheci muita gente viajando, morei em três cidades (além de São Paulo, Recife e Londres). Fui criado num bairro de periferia de São Paulo, e até hoje falo um pouco a linguagem dos manos; cresci ouvindo Mano Brown. Na rua,apesar de não ter unia convivência próxima, conheci ladrões, traficantes, viciados. Como repórter, lidei com políticos, empresários, artistas, policiais, prostitutas, religiosos.Acho que o mosaico reflete um pou-co essa variedade. </div>
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<br /></div>
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<b>JC - No livro, você usa de diversas formas narrativas para cada conto. Queria que você filasse dessa multiplicidade de abordagens. </b></div>
<div>
ARTUR RODRIGUES - Acho que isso é unia tentativa de não repetir as fórmulas, embora eu tenha consciência de que não estou rompendo com elas. Como é um livro de contos, tentei buscar demar-car a diferença entre eles, para que não se tornasse algo monótono e previsível. Para que o leitor tivesse unia sensação de estranhamento, de ruptura, surpresa. </div>
<div>
<b><br /></b></div>
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<b>JC - Apesar de tratar da realidade de figuras urbanas, O ato de riscar uni pali-to de fósforo não pode ser simplificado como uma prosa social. Como foi equilibrar o realismo dos centros urbanos e a dimensão humana das histórias? </b></div>
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ARTUR RODRIGUES - De fato, em nenhum momento busquei fazer prosa social. Acho que o livro é uma tentativa de desfigurar isso. Ariano Suassuna diz que não é regionalista, que o sertão dele é mítico. Acho que da mesma maneira a minha periferia não é unia periferia realista, é uma periferia fantástica. Os personagens urbanos inadaptados, tentando escapar de algo, da realidade, mesmo nas histórias em que não há nada meta-físico acontecendo. </div>
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<b>Narrativas curtas de cortes variados </b></h3>
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Num domingo. um homem dá um tiro na sua própria cabeça, acorda horas depois, limpa a sujeira e pensa no trabalho da segunda-feira. Outro precisa matar velhos para garantir que pessoas continuem a nascer, parte de "unia política pública" de um futuro estranho. Um guarda real inglês obrigado a ficar parado aguarda próximo grupo de turistas, parte da tortura da imobilidade do seu ofício, se dispersar. </div>
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Essas são três histórias entre as 18 presentes no livro O ato de riscar um palito de fósforo, do escritor paulista - que já viveu no Recife - Artur Rodrigues, hoje jornalista do Estado de S. Paulo. Com contos concisos, a obra traz a sensibilidade da realidade para momentos fundamentais - fantásticos ou ordinários - que são valorizados pela natureza breves das narrativas. </div>
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A apresentação da obra é do escritor Ricardo Lísias, um dos melhores nomes da atual geração. No texto, ele ressalta: "Embora se aproxime constantemente do universo da classe baixa, os contos não se prendem ao clichê do mundo-cão. Os mais sutis observam as personagens emparedadas pela solidão. Por outro lado, nos textos de escancarada violência, o autor separa certo respeito pelas personagens, caminhando na fronteira entre o exotismo e o abandono, sem nunca se permitir qualquer ridicularização". Algo a se "notar é a versatilidade das narrativas, construídas em fluxo mental, em diálogo e em noticias, dentre muitos formatos. O trato direto e preciso das histórias ainda ser-ve para deixar espaço para a força das histórias criadas por Artur. </div>
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<a href="http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/literatura/noticia/2013/06/29/artur-rodrigues-fala-da-sua-periferia-fantastica-em-novo-livro-88168.php">http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/literatura/noticia/2013/06/29/artur-rodrigues-fala-da-sua-periferia-fantastica-em-novo-livro-88168.php</a></div>
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<a href="http://4.bp.blogspot.com/-ATHCjAOEJSI/UdQ0l9O8jtI/AAAAAAAACyc/ey9SNIcp-GE/s1280/edison_materia.bmp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="256" src="http://4.bp.blogspot.com/-ATHCjAOEJSI/UdQ0l9O8jtI/AAAAAAAACyc/ey9SNIcp-GE/s320/edison_materia.bmp" width="320" /></a></div>
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<b>ESTADÃO</b></div>
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<b>Com uma ficção fortemente ligada aos temas da cidade,</b><b>repórter do ‘Estadão’ lança livro amanhã</b></h2>
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Edison Veiga</div>
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É o dilema daquela propaganda de bolacha. Artur Rodrigues arranca boa literatura dos espaços e fatos urbanos – Praça Roosevelt, metrô, PM amigo de traficante – porque é um baita jornalista, desses que sacam o mundo com sagacidade, espontaneidade e agilidade? Ou ele faz jornalismo de primeira linha justamente pela sua habilidade em enxergar e relacionar personagens, coisas e enredos, de modo que o real encha as páginas do jornal e ainda sobrem muitas ficções para contos como os que estão neste livro?</div>
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Não importa. Vale é devorar cada uma das histórias de sua lavra, escritas com ritmo e cores, cheias de tipos estranhos que poderiam muito bem existir de verdade. Ou estar em um filme do Tarantino.</div>
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Que este O Ato de Riscar Um Palito de Fósforo marque o reconhecimento de um escritor que nasce, sem precisar matar o jornalista. Leia sem moderação.</div>
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<a href="http://3.bp.blogspot.com/-lZhpupPx1YY/UdQ0JNAmUKI/AAAAAAAACyU/ZDX5C-W9Hdc/s1280/livro_dgabc.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="256" src="http://3.bp.blogspot.com/-lZhpupPx1YY/UdQ0JNAmUKI/AAAAAAAACyU/ZDX5C-W9Hdc/s320/livro_dgabc.JPG" width="320" /></a></div>
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<b>DIÁRIO DO GRANDE ABC</b></div>
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<b><br /></b>
<b>Artur Rodrigues lança novo livro</b></div>
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Thiago Mariano</div>
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O ato de riscar um palito de fósforo. A ação, de uma ponta à outra, é a consumação de algo que vai da vida à morte. Cabe tudo nesse ínterim, o despertar, o lampejo, o calor da vida correndo e o fim. O gesto é uma imagem potente, que persegue ‘O Ato de Riscar Um Palito de Fósforo’ – o livro – do início ao fim. A obra, autoria do jornalista Artur Rodrigues, ex-Diário, é lançada hoje em São Paulo e chega ao mercado pela Editora Patuá, por R$ 30.</div>
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São 18 breves contos que habitam 130 páginas. Todos apresentam um flerte descarado com a morte, mas é com a vida, na banalidade do cotidiano ou na surpresa de um acontecimento fantástico, que orbita a densidade narrativa. Tudo está por um fio. Ou à espera do irrevogável – e imprevisível – apagar da chama.</div>
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Rodrigues é principalmente repórter policial. Sua lida, ao longo dos anos, poderia passar de brutal para banal, não fosse o rapaz um atento observador, um apanhador de vida no campo da morte. “O importante, para mim, é o que acontece entre o começo e o fim. Sobre a morte a gente já sabe, o como é que vai ser a vida é que é o importante. E tem a relação de intensidade que o tema traz”, conta ele, que inspira a escrita literária há dez anos, mas só agora decidiu desengavetar seu material.</div>
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O jornalismo, para ele, é um gatilho de criação. Alguns contos refletem essa relação de maneira mais direta, como, por exemplo, o primeiro texto, que narra um modorrento domingo de plantão de um repórter. Em outro momento, Rodrigues utiliza os jargões policiais que está habituado a ver no dia a dia. Ainda, enxertos de frases tipicamente noticiosas são o recheio de outro dos contos.</div>
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“O escritor, na verdade, quer se diferenciar. Escrevendo, ele quer buscar uma coisa que está no que não está escrito. Jornalista tem que ser explícito, contar a verdade diretamente”, revela.</div>
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Nas histórias, os personagens às vezes buscam algo que não está nomeado; em outros instantes encaram a cruz já cientes da caldeirinha. “Uns têm uma relação não tão pensada ou consciente com a vida, enquanto outros questionam isso o tempo inteiro. Ninguém contou a eles como seria o jogo, mas meus personagens são pessoas inadaptadas a ele. Acho que todo mundo em algum momento o é”, pensa Rodrigues, cujo plano, parafraseando o escritor argentino Julio Cortázar, é nocautear o leitor.</div>
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“A ideia é quebrar um pouco a sensação de continuidade, de conforto, de que está tudo certo. As pessoas não se perguntam mais nada. Toda vez em que li algo que me causou estranheza, mudou algo em mim.”</div>
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<a href="http://www.dgabc.com.br/Noticia/455447/artur-rodrigues-lanca-novo-livro-">http://www.dgabc.com.br/Noticia/455447/artur-rodrigues-lanca-novo-livro-</a></div>
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<a href="http://1.bp.blogspot.com/-IUlynvLZS_k/UdQ00AkGBhI/AAAAAAAACyk/LVucEn1Mf3Y/s1280/comuniquese.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="256" src="http://1.bp.blogspot.com/-IUlynvLZS_k/UdQ00AkGBhI/AAAAAAAACyk/LVucEn1Mf3Y/s320/comuniquese.JPG" width="320" /></a></div>
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<b>COMUNIQUE-SE</b></div>
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<h2>
<b>Repórter do Estadão leva bastidores do jornalismo para livro de ficção</b></h2>
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Anos de cobertura policial e de crimes, histórias e personagens da vida real são base para o livro de ficção que será lançado nesta semana pelo repórter do caderno 'Metrópole', do Estadão, Artur Rodrigues. Intitulado O ato de riscar um palito de fósforo, a obra traz contos inspirados no que acontece diariamente em São Paulo e é reportado pela imprensa.</div>
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O autor diz que a vontade de escrever contos serve como escape e objetiva romper as barreiras do jornalismo. "O que vejo nas coberturas serve como inspiração. Os contos refletem o que eu sentia com as situações e não podia colocar nas reportagens".</div>
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O jornalista adianta que o leitor pode esperar surpresas em cada texto, além de ponto de vista de quem vai aos lugares mais obscuros da cidade. "Vi coisas e visitei locais que pessoas normais não têm acesso. É uma caixa de surpresa".</div>
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O livro tem 18 histórias e personagens como pastores, policiais, bandidos, jornalistas. Sobre a obra, o escritor e autor do prefácio, Ricardo Lísias, afirma que "O ato de riscar um palito de fósforo tem uma unidade: a morte. Às vezes brutal, outras tantas cercada de banalidade, aparecendo através da literatura fantástica ou do realismo, perdida em meio a sentimentos profundos e incontroláveis ou tratada como apenas mais um elemento do cotidiano, a morte aqui é bizarra, bem humorada, caótica e surpreendente".</div>
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Rodrigues está no jornalismo desde 2003 e, neste período, acumulou passagens por Diário do Grande ABC, Agora São Paulo, Jornal do Commercio e Estadão. O lançamento do livro está agendado para sábado, 11, no bar Canto Madalena (Rua Medeiros de Albuquerque, 471 - Pinheiros), na capital paulista.</div>
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http://portal.comunique-se.com.br/index.php/acontece/71745-reporter-do-estadao-leva-bastidores-do-jornalismo-para-livro-de-ficcao </div>
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<a href="http://2.bp.blogspot.com/-sqwN856_9oI/UdQ1TX6dzmI/AAAAAAAACys/M5YBf9QXsK0/s1280/virgula.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="256" src="http://2.bp.blogspot.com/-sqwN856_9oI/UdQ1TX6dzmI/AAAAAAAACys/M5YBf9QXsK0/s320/virgula.JPG" width="320" /></a></div>
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<b>VÍRGULA</b></div>
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<b>O Ato de Riscar um Palito de Fósforo, livro de Artur Rodrigues, será lançado em São Paulo</b></h2>
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Os mais de 10 anos como repórter fizeram de Artur Rodrigues um observador de personagens urbanos que figuram invisíveis no dia a dia de um jornalista com um deadline. </div>
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Como resultado desses momentos analíticos, Rodrigues lançará o livro O Ato de Riscar um Palito de Fósforo, pela editora Patuá. São 18 contos com tipos comuns nas pautas dele: pastores, bandidos, policias, jornalistas.</div>
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O título faz menção a uma das histórias presentes na obra. “Dá para dizer que o nome se refere ao ato de riscar um palito de fósforo como metáfora sobre as coisas repentinas e mágicas que acontecem na nossa vida. Para o bem e para o mal. E também tem um quê de reflexão sobre o fato de essas coisas mágicas acabarem um dia, como os palitos de fósforo da caixa”, comenta o escritor.</div>
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Aberto a todos, o lançamento acontece no próximo sábado (11), no Canto Madalena (Rua Medeiros de Albuquerque, 471, Vila Madalena) em São Paulo. Lá a publicação estará à venda por módicos R$ 30. E, para comprar o livro pela sem sair de casa, basta acessar o catálogo editora. </div>
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http://m.virgula.uol.com.br/diversao/literatura/o-ato-de-riscar-um-palito-de-fosforo-livro-de-artur-rodrigues-sera-lancado-em-sao-paulo</div>
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-24980526494124945192013-05-02T09:01:00.002-07:002013-05-02T09:01:20.891-07:00Agora vai!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-2fl_uy14RfM/UYKNve9NqjI/AAAAAAAACvc/5DAylWHspBI/s1600/convite.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-2fl_uy14RfM/UYKNve9NqjI/AAAAAAAACvc/5DAylWHspBI/s320/convite.jpg" width="240" /></a></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-49373115156186091752013-04-15T18:22:00.003-07:002013-04-15T18:22:41.691-07:00Gente de bem<br />
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Enquanto o elevador desce numa velocidade que lhe faz embrulhar o estômago, ele sorri para você.<br />– Estamos fazendo o melhor para todos, o mais fácil era ficarmos parados, afinal...</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
É um sujeito simpático. Naquela mesma manhã, ao vê-lo na chuva, lhe deu uma carona no guarda-chuva dele.</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Agora, ele faz uma piadinha sobre estar ficando velho e mostra no celular a foto dos netos, duas crianças lindas. Ambas loiras, de olhos azuis, que não se parecem com ele.</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Quando finalmente você chega ao subsolo, ele espera você sair primeiro e lhe dá uma palmadinha nas costas. O sapato dele faz barulho enquanto vocês caminham lado a lado – o seu, com sola de borracha, permanece mudo, assim como você.</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
– Estou bem otimista, viu? Acho que agora estamos no caminho certo...</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Ele diz alguma coisa sobre pesquisas ou estatísticas ou algo que você não consegue entender direito porque vocês dois agora estão bem em frente ao incinerador. Você ouve alguma coisa e se pergunta se era um grito ou alguma espécie de animal.</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Ao perceber que você está tremendo, ele faz menção de tirar o casaco dele e colocar nas suas costas. Olha para os punhos por um segundo e aborta o gesto.</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt;">
Abre a porta e, gentilmente, começa a empurrar-lhe em direção ao fogo. Você não costuma contrariá-lo, mas acaba enrijecendo o corpo instintivamente. Ele, sem perder a delicadeza, empurra você com mais força.</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt;">
– Mas a gente se fala... Precisando de qualquer coisa, você ouve, antes do estrondo da porta de ferro batendo nas suas costas.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-62119317602366947192013-02-23T15:23:00.000-08:002013-02-23T15:23:24.825-08:00RumoÉ andando pelas ruas que encontro as esquinas dentro de mim.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-16764107110253356152013-02-19T10:11:00.000-08:002013-02-19T10:11:42.918-08:00Pedido<br />
<div class="im" style="background-color: white; color: #500050; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Só lhe peço a delicadeza</div>
<div class="gmail_quote" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
<div class="im" style="color: #500050;">
De sorrir enquanto me odeia</div>
Que espirre ou assobie</div>
<div class="gmail_quote" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Em vez de falar o que pensa<div class="im" style="color: #500050;">
Não quero nada de mais</div>
Apenas a ignorância plena</div>
<div class="gmail_quote" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="color: #500050;">Pois sei bem que as cicatrizes</span><br style="color: #500050;" /><span style="color: #500050;">Vivem mais que as verdades</span><br style="color: #500050;" /><span style="color: #500050;">E rezam ao pé da tumba dos sinceros</span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-62389468529056892682013-02-08T15:00:00.003-08:002013-02-08T15:13:57.482-08:00O jantar<br />
<div class="MsoNormal">
<br />
<div class="MsoNormal">
Para quem nunca havia comprado ricota na vida, pagar nove
reais em uma parecia um absurdo. João pegou uma, outra e outra, apertando-as e
olhando o preço. Todas tinham meio quilo. Surpreendeu-se com uma mulher
adivinhando-lhe o pensamento. Não podia ter um pedaço menor? Em casa, só eu como, disse ela. E ele
concordou sem dizer nada, com o mesmo sorriso constrangido que fazia para todos
os estranhos que resolviam falar com ele em locais públicos. </div>
<div class="MsoNormal">
No caso dele, a ricota fazia parte da receita e ele resolveu
segui-la à risca. Dentro do possível. Era um penne ao molho de espinafre e
ricota, com salmão e manteiga de ervas. No lugar do espinafre, que havia
acabado, comprou algo que lhe pareceu rúcula. E resolveu trocar o penne por um
macarrão em formato de gravata borboleta. </div>
<div class="MsoNormal">
Como os pedaços de salmão disponíveis no mercado eram
grandes demais para duas pessoas, resolveu levar outro peixe. Revirou o congelador
e acabou levando um saco com três filés de Saint Peter. Agora, em vez do prato
da receita, teria macarrão gravata ao molho de espinafre e ricota, acompanhado
por filés de Saint Peter com manteiga de ervas. Também lhe pareceu bom. </div>
<div class="MsoNormal">
Só faltava o vinho. Escolheu um português que, fora da
promoção, custaria pelo menos dez reais a mais. Definitivamente, era um bom
negócio. </div>
<div class="MsoNormal">
Quando passava as
coisas no caixa, que era operado por uma moça sorridente e prestativa, que
parecia nova no emprego, recebeu uma mensagem no celular. Precisava correr para
que estivesse tudo pronto quando ela chegasse em casa. </div>
<div class="MsoNormal">
Distraído pensando em que música colocaria para tocar no
jantar, esqueceu de ir empacotando as coisas enquanto a caixa registrava os
produtos. Despertou do transe ao ver na tela do caixa que as folhas que comprara
eram na verdade agrião. Mais uma modificação na receita. Agora, teria de ser
macarrão com agrião e ricota. </div>
<div class="MsoNormal">
Estava chovendo um pouco quando saiu do mercado. Desceu a
Rua Veridiana numa passada rápida e parou de repente ao ver, no jardim de um condomínio,
pequenas flores roxas que não sabia o nome. Apenas algumas delas, no centro da
mesa, dentro de uma garrafa vazia qualquer, eram o que faltava para tudo ficar
perfeito. Esperou por alguns momentos até que uma idosa, que se locomovia lentamente
com ajuda de uma bengala, virasse as costas. Então, enfiou a mão por entre as
barras do portão e alcançou um punhado de flores. </div>
<div class="MsoNormal">
A ntes que arrancasse a planta do canteiro, viu um clarão e
sentiu um calor percorrendo seu corpo. Os músculos se comprimiram e já não
distinguia bem o que via. Sua mão esquerda apertou-se ainda mais sobre o caule
das plantas, enquanto o resto do corpo estremecia naquela coreografia ditada
pela descarga elétrica. </div>
<div class="MsoNormal">
O vinho espatifou-se no chão. Uma universitaria que voltava da
aula antes da hora quase tropeçou em João. À primeira vista, achou que o líquido
que escorria pela calçada até juntar-se ao esgoto no meio fio era sangue. </div>
<div class="MsoNormal">
Gritou por socorro e logo João estava cercado de curiosos. Dois
moleques só não reviraram as coisas dele em busca de algo de valor porque algumas
mulheres estavam muito próximas, uma delas chorando depois de ver o pequeno buquê
de flores esmigalhado na mão dele. Outra ajoelhou-se para começar a rezar, mas
deu um pulo quando o celular dele começou a tocar uma música alegre. Ninguém
teve coragem de atender. </div>
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-49763387933638569672013-01-27T17:19:00.002-08:002013-01-27T17:20:33.406-08:002666, o mundo todo num livro incompletoHistórias que não acabam e se emendam em outras, outras e outras. As portas que se abrem e nos confundem e nos expandem. Terminei, depois de começar e parar uma vez, 2666. As histórias incompletas de Bolaño, como as de Kafka, abrem janelas para o universo. São de incompletude infinita. A imperfeição de certas obras primas nos faz pensar no que os livros podem fazer por nós - explodem feito granadas na nossa alma, abrindo possibilidades labirínticas. A crueza de uma prosa absurdamente sofisticada, a complexidade dos personagens mais simples, o poder da repetição para criar o novo mostram a maestria paradoxal de Bolaño para construir uma prosa divina, sem respostas, cheia de possibilidades, estrelas mortas, que se expandem feito o mundo todo, para não se sabe onde, para lugar nenhum.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-82592157139569806402012-12-23T19:32:00.000-08:002012-12-23T19:32:51.162-08:00BeliscãoNo meio da noite quente, anotações em guardanapos perdidos, rabiscos no cimento molhado e ecos de pensamentos formam uma correnteza garganta acima. Refluxo de vinho ruim que, mesmo após uma golada de água límpida e fresca, ainda resiste na goela. Num espelho imaginário, vejo um rosto de gente do metrô, de gente inanimada, carcomida pelo tempo. Os olhos baços diante da estrela mais brilhante, as pernas bambas de cachorro velho e cansado que não chega no prato de comida sozinho. Só o que me mantém de pé é a fagulha de uma dor distante, uma cicatriz que revolvo desesperadamente com as unhas compridas à procura do sangue quente, como quem tenta, em vão, beliscar a própria alma.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-2849567940049042252012-11-10T14:29:00.001-08:002012-11-10T14:35:04.819-08:00A nuvem no concreto<br />
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Tem dias em que nem o céu azul adianta. Os milagres parecem obrigação, o amor vira só um clichê e mesmo o ar é indigesto dentro do peito. Um filé mignon revirava no meu estômago, no trajeto entre o restaurante em que almoçava todos os dias e o escritório onde trabalhava há 15 anos, quando vi algo diferente. </span><br />
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Era uma nuvem de gente, que flanava desordenadamente à minha frente. Ao chegar mais perto, percebi que se tratava de </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">uma multidão de viciados que nunca havia visto antes. Eram esqueléticos e sujos, lembravam zumbis, mas tinham um desapego que eu, depois de fazer aquele mesmo caminho durante tantos anos como um cavalo adestrado, invejei. </span><br />
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Resolvi passar no meio deles, só para ver. Ali no meio, mesmo perfumado e de roupa social, não me trataram com nenhuma distinção. Ofereciam-me pedra de 2, de 5, de 10 e eu ia desviando de um e de outro. Meio que de brincadeira, </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">tirei dez reais do bolso e dei na mão de um homem de boné vermelho, que segurava uma pequena caixa de som na qual tocava uma música de um ritmo estranho e repetitivo. Não pensava em fumar aquilo, era só uma espécie de flerte, como quando aceleramos o carro demais para depois frear. </span><br />
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Mas fiquei sem reação quando o sujeito colocou </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">o cachimbo na minha boca e o acendeu. </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Não posso me eximir do que fiz depois porque dessa vez eu não pisei no freio. Acelerei mais. Estava muito quente e queimei os meus lábios. Aspirei fundo e me senti intoxicado. Logo depois, me parecia perfeitamente natural flutuar de gravata por uma rua no centro de São Paulo. Aquela gente tão feliz </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">que me cercava parecia entender tudo que eu pensava. As crianças brincavam comigo como se eu fosse um balão, leve, leve, leve. Pelos meus bolsos escorregavam metas, obrigações, educação, bom senso, fundiam-se numa substancia líquida que escorria na direção de um duto de esgoto. </span><br />
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">E o sorriso quase não cabia no meu rosto. </span><span style="background-color: white;"><span style="color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Até que ele se desfez e uma espécie de câimbra começou a chacoalhar os meus músculos. Antes que a bolha de sabão que me envolvia estourasse, uma pessoa luminosa ofereceu-me um trago e me dei conta que jamais participara de tamanha irmandade - nem minha família conseguira me acolher assim dessa maneira, como se dezenas de pessoas me abraçassem ao mesmo tempo, sem qualquer cobrança ou olhar de reprovação. Sentei-me na calçada, ao lado de uma senhora numa cadeira de rodas e comecei a brincar com o cachorro dela. Pela primeira vez na vida, não tinha pressa. E finalmente eu era muitos, era ninguém, não era. </span></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-45801236331821989152012-05-15T22:36:00.003-07:002012-05-15T22:36:57.709-07:00PápumO amor é poderoso, mas afrouxa feito elástico _ a cada vez
que vai, a chance de voltar é menor. O ódio é feito pólvora. Explode, sempre.
Mas geralmente o barulho é maior do que o estrago. Os dois juntos são plutônio. Basta um encontro
para o estrago ser irremediável.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-80590891815236274272011-12-12T20:44:00.000-08:002011-12-12T20:45:04.192-08:00Silêncio<!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> 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O céu ainda será moldado por essas janelas, o barulho da chuva continuará a batucar sobre as telhas e alguém respirará esse mesmo ar que eu respiro. Mesmo que esteja longe daqui – não consigo entender por <span style="mso-spacerun:yes"> </span>que todos vocês me olham tão assustados quando digo essas coisas – mesmo que eu esteja a um zilhão de quilômetros daqui, o estrago estará feito. As raízes espreguiçaram-se por terrenos pantanosos, espalharam-se por tudo, que já não é possível plantar um pé de feijão que seja no meu peito. O pomar continua dando frutos, que caem e apodrecem gerando mais árvores e mais frutos, e o cheiro torna-se cada vez mais insuportável, e não há nada, não, nada, que possa ser feito a essa altura, quando tudo não para mais de apodrecer, mesmo o que ainda está para nascer. Não, não basta que eu feche os olhos, tape os ouvidos, prenda a respiração. Sei que vocês me olham muito incomodado por dizer tudo isso assim, no meio de seja lá o que for de mais importante que vocês tenham a fazer, posso ver os dedos de vocês coçando para carimbar, grampear, rubricar, adivinho a música das teclas dos telefones, o deslizar das cadeiras pelo piso frio, as dobradiças enferrujadas reclamando, suas mentes repetindo: inconveniente, inconveniente, inconveniente,<span style="mso-spacerun:yes"> </span>mas, para ser sincero, essa impaciência toda me entretém. Sei que sou só um nesse caminho, não importa que tenha inventado a lava, a água, o enxofre. Não importa que tenha visto vocês pequenos, rindo feito maçãs e abutres, comendo feito esterco e baratas, crescendo feito nuvens e orvalho. Não importa que vocês não fossem nada, sei que agora vocês olham e pensam, julgam, acima de tudo, julgam, sentados, andando para um lado e para o outro, rezando aqui e ali, implorando nesse canto e naquele. A verdade é que não basta mais que eu vá embora, nem para mim nem para vocês. Não basta que esqueça esse planeta cada vez menos azul nesse canto do mundo, que transforme tudo isso em poeira no meu pensamento. Tem que acabar. Enquanto tudo isso continuar existindo, corroendo-me, mesmo que confortavelmente num sótão qualquer, eu mesmo existirei pela metade. Para que eu tenha sossego novamente – e não pensem que me comovo com seus choros e pragas, arrependimento, abraços, lágrimas, apelos, promessas – para que, bem, para que, é preciso que eu ponha um ponto final em tudo, não uma vírgula, um ponto final para que só sobre minha paz e o silêncio. <span style="mso-spacerun:yes"> </span><span style="mso-spacerun:yes"> </span></p>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-76361692206402620882011-11-20T08:02:00.000-08:002011-11-20T09:18:50.302-08:00Você que é feito de azul<div style="text-align: left;">Sempre fui pelo amarelo, mas o azul tem me conquistado ultimamente. O golpe final foi o disco Kind of Blue, clássico de Miles Davis que vim conhecer só agora, nos píncaros da terceira idade. Não que eu desprezasse os encantos azulísticos até então. Afinal, já havia o azul-liberdade-é-azul, azul-soneto-do-desmantelo azul, azul-fase-azul-de-Picasso, entre outras azulices, mas agora é diferente, agora, depois dessa obra prima, não há mais o que questionar sobre os motivos divinos-científicos-do-acaso para as cores do céu, do mar, da Terra e dos Smurfs.</div><div><br /></div><div><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 500px; height: 500px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_A3oHeERMQmE/TTb05prM2wI/AAAAAAAAANc/FxH-1y0RBMQ/s1600/kind_of_blue.jpg" border="0" alt="" /></div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-49745028585920165222011-11-15T09:17:00.000-08:002011-11-15T09:18:07.969-08:00Reconhecimento<!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> 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Está muito calor, mas sinto lufadas de ar frio que me dão arrepios. </p> <p class="MsoNormal">Tantos queriam estar sentados nessa cadeira, diz um deles, com um sorriso boçal desenhado nos lábios, que já não posso enxergar com meus olhos que já não passam de geleia. </p> <p class="MsoNormal">Você precisa ver que ordens são ordens, completa o outro, esmagando a ponta do meu indicador com um alicate. Sabemos que isso tudo não é necessário, mas estamos fazendo só para garantir, continua ele, <span style="mso-spacerun:yes"> </span>gentilmente. </p> <p class="MsoNormal">Sinto uma pontada na perna e percebo que alguém começa a tirar a minha pele com uma faca, como se descascasse uma batata. </p> <p class="MsoNormal">Você precisa ser menos intransigente, as coisas são assim mesmo, temos pesquisas que comprovam isso, ouço, pouco antes de ter minha orelha esquerda decepada com uma faca de lâmina quase cega. </p> <p class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun:yes"> </span>O sangue morno molha meu corpo inteiro. A dor que sinto são muitas que se emendam numa poderosa combinação de ardência, pontadas agudas, desesperança, tremores, cócegas e suor frio. </p> <p class="MsoNormal">Você tem que entender que nós temos responsabilidades, falam todos ao mesmo tempo. Se alguma coisa der errada, somos nós quem temos de responder a ele. </p> <p class="MsoNormal">Apesar de ainda preservar minha língua comigo, há muito desisti de responder o que penso. As palavras já não significam mais nada aqui. Além do mais, é difícil fazer-se entender com o barulho dessa serra elétrica que usam para decepar meu braço direito, na altura do ombro. As faíscas que resultam do atrito entre minha clavícula e a serra giratória pinicam no meu pescoço. </p> <p class="MsoNormal">Com o mercado como está, dificilmente alguém teria os privilégios que se tem aqui, diz uma voz longínqua, que ecoa lentamente.</p> <p class="MsoNormal">Sei que o cara que está sentado na cadeira ao lado da minha concorda. Da última vez que vi, tinham-lhe feito no rosto um sorriso permanente, esticando-lhe a boca de orelha a orelha com um estilete, que dava a ele uma aparência ainda mais estúpida e subserviente. </p> <p class="MsoNormal">Um volume de peso mediano é colocado sobre o meu colo. </p> <p class="MsoNormal">Para mostrar o quanto reconhecemos o seu esforço, estamos lhe presenteando com essa cesta de produtos de...</p> <p class="MsoNormal">A voz masculina e irritantemente aguda desaparece. O sumiço total das vozes coincide com a sensação de que uma broca atravessa<span style="mso-spacerun:yes"> </span>meu crânio, de ouvido a ouvido. O silêncio me traz uma sensação de aconchego. Sinto-me massageado por todo o corpo. </p> <p class="MsoNormal">Diria que estou no céu, não fosse o cheiro de carniça que impregna o ambiente. </p>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-57253527037502192572011-11-08T03:27:00.000-08:002011-11-08T03:30:20.035-08:00Plantão de domingo<!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> 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Não corria, não. Andava sossegadamente, só com a pressa natural com que nascera, a impaciência de quem sempre está alguns segundos atrasado.<br /><br />Apesar da mochila nas costas, carregava um livro com contos de Tchekov debaixo do braço, como fazem os crentes mesmo com as bíblias mais pesadas.<br /><br />Descia a rua Augusta que, naquela tarde de domingo, fazia jus ao nome. Apesar do lixo, dos carros e do barulho, havia o sol brilhando, o raríssimo e fundamental céu azul; casais de velhos passeando de mãos dadas; adolescentes ruidosos competindo quem tinha o cabelo mais azul, vermelho, rosa, o maior piercing; amigos dando risada e bebendo cerveja; as pessoas sendo levadas pelos cachorros para passear.<br /><br />Olhava as vitrines degustando as coisas antigas: chapéus, cachimbos, livros amarelados, roupas antiquadas, que as traças haviam mordiscado.<br /><br />Dobrou à esquerda na praça Rooosevelt. Gente de teatro bebia nos bares, namorados se agarravam encostados nas árvores. No bar do Estadão, pediu um lanche de pernil, que de tempos em tempos regava com o molho de pimenta, antes das mordidas que enchiam-lhe a boca, para em seguida refrescar-se com goles da cerveja da garrafa verde, gelada e amarga.<br /><br />Saiu de lá quase flutuando, o prazer da boa comida irradiando pelas veias. Atravessou a avenida São Luiz fora da faixa, pulou o mendigo que dormia no canteiro, cruzou a praça da República. Cortou caminho pela galeria do Rock, lotada de gente tatuada, carecas rascistas convivendo com os manos do rap, numa espécie de guerra fria, aliviada pelo frescor meninas bonitas e suadas que passavam.<br /><br />Olhou o relógio. Sim, estava quase na hora. Afastou aquele pensamento da cabeça. Sabia que em poucos minutos chegaria ao prédio cinza. O azul do céu estava menos azul. Algumas nuvens montavam grupinhos no céu, cochichando.<br /><br />Seguiu olhando para os pés, os tênis Adidas meio sujos, chutando latas, desviando de ratos mortos. Esbarrou com alguns zumbis que ostentavam cachimbos nas mãos. Ouviu dialetos, provavelmente africanos, completamente incompreensíveis. Evitou olhar qualquer um nos olhos com medo de vislumbrar o prédio cinza.<br /><br />Quando já estava no limite, cérbero latindo nos seus calcanhares, abriu a mochila, jogou o livro lá dentro, pegou o crachá. Na foto, sorria um sorriso sem graça, parecido com o de Judas ao vender Jesus.<br /><br />Ao entrar no edifício, os olhos demoraram a acostumar-se com a falta de luz. Encostou o crachá na catraca, que emitiu um som agudo e liberou o acesso. Esperou o elevador ao lado de um cara de rastafari. Entrou no cubículo metálico e apertou o sete.<br /><br />A porta se abriu. Andou alguns metros até a máquina de café. Apertou dois botões: sem açúcar, longo. Quando o café ficou pronto, o letreiro agradeceu: obrigado. Com o copo de plástico na mão, pela primeira vez, encarou a redação vazia, fileiras e fileiras de mesas desocupadas.<br /><br />Sentou-se na mesa desarrumada, coberta de papéis, canetas, copos plásticos de café vazios, embalagens de chocolate. Ligou o computador. A tela se acendia quando ouviu os passos atrás de si. Ficou imóvel, fingindo prestar atenção no brilho que aumentava à sua frente. Um barulho metálico ressoou nos ouvidos, antes do estrondo, a explosão nos seus tímpanos, os miolos voando sobre o monitor.<br /><br />***<br /><br />Quando abriu os olhos, haviam se passado 12 horas, notou pelo relógio no canto do monitor. Levantou a cabeça do teclado, ainda tonto, o sangue escorrendo-lhe da boca. Abriu o zíper da mochila, achou um saco plástico, onde guardou os miolos que haviam se espalhado pela tela e pela mesa. Com um guardanapo, limpou o que restava.<br /><br />Desligou o computador, desceu o elevador, encostou o crachá na catraca e ouviu novamente o barulho agudo liberar a saída, sentindo alguma dor de cabeça. Ao pisar na rua, jogou o crachá na mochila, o saco plástico manchado de vermelho, e olhou para o céu. A lua estava enorme, amarela, quase totalmente redonda, crescente, cheia, não soube ao certo. Nenhuma nuvem.<br /><br />Respirou fundo, o pulmão acostumando-se com o oxigênio novamente, e seguiu sem olhar para trás rumo à segunda-feira.</p>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-91473818492807945232011-10-09T19:52:00.000-07:002011-10-09T20:01:07.656-07:00ClandestinosMatéria minha para o jornal Agora SP<br /><br /><a href="http://3.bp.blogspot.com/-1FbgSYJZVGo/TpJfRxQzI2I/AAAAAAAACsY/WqZcCInb_e0/s1600/clandestinos.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5661692440444347234" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/-1FbgSYJZVGo/TpJfRxQzI2I/AAAAAAAACsY/WqZcCInb_e0/s320/clandestinos.jpg" /></a><br /><br /><div><strong><strong>Clandestino cruza Atlântico em viagem mortal de 6 mil km</strong></strong><br /><br /><em>Em fuga, africanos acabam vindo para o Brasil escondidos<xb> <bf>em porão e buracos das embarcações</em><br /><br />Semanas sem comida, higiene zero, parcialmente debaixo d’água no porão de um navio. Clandestinos vindos da África enfrentam jornadas de 6 mil km que duram até um mês atrás de oportunidades de emprego, refúgio e até um amor em outro continente. Alguns morrem pelo caminho.<br />Neste ano, a Polícia Federal no porto de Santos registrou 16 clandestinos em cargueiros vindos da África. “Num caso em 2010, cinco pessoas vieram no compartimento do leme. Só dois chegaram aqui”, diz o delegado da PF Vilton Gomes de Souza.<br />Os clandestinos têm perfil definido. São homens, jovens, para aguentar a viagem, sem vínculos familiares, de países como Nigéria, Camarões, Togo e Gana.<br />Eles se escondem em espaços diminutos, nos compartimentos do leme, da âncora e do guindaste dos cargueiros _que voltam vazios da África após saírem carregados de açúcar do Brasil.<br />Muitos decepcionam-se ao descobrir que, em vez de desembarcar na Europa, estão no Brasil. Por esperar uma viagem curta, a comida que levam acaba. “Ficam com fome e se apresentam à tripulação”, diz Souza.<br />Em Santos, na maioria das vezes, os clandestinos têm desembarque autorizado. Quem arca com o custo até que sejam mandados de volta são os navios. A multa é de R$ 827,75. Porém, os gastos podem chegar a R$ 40 mil com hospedagem, tratamento médico e passagens aéreas para repatriação. É raro que consigam o visto de refugiado para ficar.<br /></ainter><bf>Busca<xb><br />São inúmeros os motivos para encarar uma viagem que pode ser mortal. Há relatos de que, na Europa, alguns países dão dinheiro para que imigrantes voltem, o que gera clandestinos profissionais. Atualmente, há um estrangeiro preso em Santos por se recusar seguidamente a embarcar no avião de volta ao seu país. Queria o equivalente a R$ 17 mil para ir embora. “No Brasil, seguimos a legislação. O estrangeiro que se recusar a entrar no avião vai preso”, diz Maurício Alves, diretor da Proinde, empresa que cuida da hospedagem e repatriação dos imigrantes no Brasil.<br />Há africanos que fogem da guerra, da perseguição religiosa e da fome. Mas há também quem fuja da saudade. No começo de setembro, um camaronês de 22 anos chegou ao Brasil no leme de um navio de Cingapura. Havia viajado por duas semanas, passado fome por cinco dias neste período e sofrido com malária. Meses antes, já havia sido flagrado no Porto de Santos e mandado de volta à África. À PF disse que o motivo de encarar de novo a viagem tem nome: Luana, uma moça que conheceu em São Vicente. Apaixonado, já não consegue mais ficar longe dela.</aassin><bf> (Artur Rodrigues)<xb><br /><br /><br /><bf><uf><xb><xu><uf><xu></ACRED,1.,6,><strong>De imigrante ilegal a cantor de reggae </strong><br />Aos 31 anos, o nigeriano Osas Destiny Onaiwu pode dizer que é mestre em escapar da morte. Quando conseguiu entrar como clandestino em um navio, havia acabado de tomar um tiro de espingarda calibre 12 .<br />“Parecia que haviam jogado areia quente nas minhas costas”, lembra.<br />Era fim do ano 2000 e a cabeça dele havia sido pedida por um militar, pai da namorada que engravidou dele e morreu em um aborto. “Um amigo meu era segurança do navio e me colocou para dentro”, diz ele.<br />O esconderijo foi o compartimento da âncora. Todo alimento eram pedaços molhados de pão. “A comida acabou. Fiquei três dias sem comer.” Com medo de ser jogado ao mar, foi o último dos oito clandestinos a se apresentar à tripulação. A hospitalidade surpreendeu. Após 35 dias, estava no Brasil.<br />Aqui, a sorte mudou. Legalizou sua situação e formou a banda de reggae Conexão Baixada. Fez sucesso e chegou a fazer turnê com Chorão, do Charlie Brown Jr.<br />Há dois anos, após disputa dos direitos autorais, saiu da banda. Hoje, para sustentar o filho de oito meses, vende lanches com a mulher brasileira.<br />Usando o nome Jamaicaboy, também faz shows solo (veja a agenda no site www.jamaicaboy80.blogspot.com). Fala português, mas compõe em inglês. O nome do último CD resume a vida do clandestino que virou artista: “My Dream Came True”, em português, “Meu Sonho Virou Realidade”.</aassin><bf>(AR)<br /><br /><strong>Navios jogam invasor em mar por economia </strong><br />Navios de países pobres costumam jogar clandestinos no mar para evitar arcar com os custos, segundo relatos de quem já viajou ilegalmente. “No porto de Lagos, na Nigéria, apareciam vários cadáveres de pessoas que haviam embarcado dias antes”, conta Osas Destiny.<br />Segundo ele, esse tipo de crime era cometido principalmente em águas africanas, onde há pouca fiscalização. A tática seria mais adotada por navios indianos, africanos e chineses.<br />Também há capitães de navio que jogam os invasores em barcos. Dessa maneira, os clandestinos são recolhidos por outros navios, mas como náufragos, cujos custos são pagos pela ONU.<br />No Brasil, os navios também têm suas táticas para tentar evitar pagar o custos dos estrangeiros. Em 2009, a Polícia Federal autuou um capitão que foi flagrado tentando despejar um imigrante numa favela de Santos.</aassin><bf>(AR)<xb><br /><br /><strong>'Eles chegam com o cheiro dos mortos’</strong></div><br /><div>Imigrantes ilegais em compartimento do leme de<xb> <bf>embarcação são resgatados no porto de Santos<xb> <bf><xb></atx>“Os clandestinos chegam com pés inchados, desidratados, a pele descolando, algumas vezes com malária e cheiro de podre, como se estivessem mortos.” A descrição foi feita pelo escrivão da Polícia Federal Marco Antonio Scandiuzzi, que se inspirou nas histórias que ouviu dos imigrantes africanos para escrever o livro “Clandestino”.<br />Lotado em Santos, ele atuou nos anos em que mais clandestinos chegavam ao Brasil, de 2003 e 2006. “Houve alguns anos em que chegaram mais de cem”, conta Scandiuzzi.<br />Naquela época, o que mais chocou foi o grau de pobreza dos homens que entrevistava. “Eles vinham de lugares em que costumavam varrer o arroz que caía no chão do porto para comer. Era muita fome”, conta.<br />Segundo ele, durante a travessia, a maioria leva pouca coisa na viagem. Muitos sucumbem e acabam bebendo a água do mar.</aassin><bf>(AR)<xb> </div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-41705544726970370272011-09-13T16:18:00.000-07:002011-09-13T16:38:03.632-07:00Meu jardimO centro de SP é o meu jardim. Um canteiro mal cuidado, com plantas concretadas, caules, folhas, flores submersas no asfalto, incrustadas sob as fachadas antigas, a minha educação pela pedra. Passeio devagar, acariciado pelos esbarrões dos cotovelos apressados e pela brisa da fumaça dos cigarros dos funcionários. Sem nenhum cansaço, sento-me em um banco coberto de folhas mortas e cruzo as pernas. Delicio-me com o fedor da merda dos pássaros e essa estranha desordem harmônica. Fico a mirar o nada, planto o caos no meu coração.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6114274547041824152.post-65434493282137030922011-08-26T06:58:00.001-07:002011-08-26T07:04:51.617-07:00O pequeno anarquista dentro de mim Desde que nasci, me lembro daquela vozinha gritando dentro de mim. Sem muita lógica, esperneava contra tudo que fosse norma. Batia o pé contra regras, autoridades, tradições. Lembro que os adultos me chamavam de “do contra”. Um pequeno do contra, dizendo não, não e não. Não para o Papai Noel, para as verduras, para o cabelo penteado, para o banho (há maior instrumento dominação para uma criança do que o banho?!).
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<br /> Aos poucos, fui aprendendo a reconhecer essa voz. Às vezes, com irritação, porque todos querem ser aceitos. Outras, com orgulho, porque ninguém quer ser só mais um na manada. Quem falava era o pequeno anarquista dentro de mim, um sujeito extremamente radical que me fez detestar ricos e chefes desde sempre, por saber que só se vira rico ou chefe passando por cima dos outros, da liberdade e do direito dos outros.
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<br /> Quando decidi virar repórter, uma das minhas maiores motivações era poder fazer alguma coisa contra os policiais militares que nos esculachavam na rua _ por nós, digo a molecada da periferia, que andava de skate e ficava bêbada de vinho vagabundo. Nos meus primeiros anos de carreira, descobri grupos de extermínio, acabei ameaçado, fui responsável pelo afastamento de dezenas de policiais. Mais adiante, fui notando que muitos PMs eram apenas os braços de algo muito maior. Em uma série de matérias, consegui o afastamento de uma juíza corrupta, que se achava a dona de uma cidade. Em outra escala, descobriria eu, também ela era microscópica.
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<br /> Meu grilo falante subversivo ficou satisfeito por um tempo. No entanto, ele era perspicaz, sabia que a felicidade era um sentimento comodista, diferente pela busca pela felicidade, que nos faz mudar e mudar. Ele me fez notar que, como jornalista, eu mesmo sou um conformado. Os jornais, da forma como se constituem, com uma sala de vidro no meio, onde sentam os oráculos da chefia, são instrumentos de repressão tanto quanto um quartel da PM. O mesmo veículo que fala sobre trabalho escravo pode obrigar um funcionário a trabalhar 20 horas diárias. O psicopata cerebral pode torturar com o poder da mesma forma que faz o psicopata visceral com uma faca.
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<br /> Larguei por um tempo dos jornais. Viajei, li, me apaixonei, enlouqueci, saí de mim. Depois disso, o apetite do meu baderneiro interior por subversão foi ficando desproporcional. Tento saciá-lo com porções de Clube da Luta, Taxi Driver, Laranja Mecânica, doses do meu mestre Kafka, pílulas efervescentes de Clash e Racionais e, menos freqüentemente, uma injeção cavalar de Nietzsche.
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<br /> Sei, porém, que tudo isso não passa de paliativo. Quando obedeço a uma ordem com a qual não concordo, curvo-me a um superior hierárquico sacana, finjo não estar ligando para os pés que esmagam a mim e aos meus companheiros, não consigo desviar os olhos do verdadeiro tirano, o que dá poder a PMs, juízes, chefes e presidentes: o sujeito no espelho, buscando diversão, alívio, conforto, felicidade, admiração, seja lá o que for. Esse sim é o grande e verdadeiro adversário do pequeno anarquista.
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03308079980108314839noreply@blogger.com0