Gosto muito mais da ficção que da realidade. Mais interessante e sedutora, a primeira me deixa louco com sua indiferença, um flerte dissimulado e cruel. Me faz esquecer do mundo.
Prática e muitas vezes justa, a segunda me cerca de um jeito que me deixa sem saídas. Cheia de si, despeja na minha cara: "Você tem fantasias com ela, mas só sobrevive no meu colo". Com medo de ser rejeitado, caio nos braços da pragmática realidade.
Sempre quis ser escritor, desde que aprendi a ler, antes de muita gente da minha idade. Edito e reedito um livro desde 2002. Ficção que continua impressionantemente impublicável e que, graças aos devidos cortes, nunca passa das 50 páginas. Largo dela por anos, não coincidentemente nos períodos em que mais trabalho como repórter. Chego a sentir estar no caminho certo até tropeçar no cansaço e na frustação. Me pego sonhando com as delícias da cama da outra.
Realidade e ficção são, na minha vida, duas irmãs lutando por atenção. Suas motivações são diferentes como uma é o avesso da outra. A realidade me quer porque tem certeza que pertenço a ela. A ficção, por sua vez, pretende apenas me tirar os braços da outra, sem dar a mínima garantia.
Às vezes, tenho vontade de matar as duas. Só não o faço por puro egoísmo.
Tenho o mesmo sentimento, meu caro amigo. Já somos bombardeados demais com a realidade. Ficção é, para mim, uma forma de escapar deste mundo - seja nos livros, seja nos poemas, seja nos pensamentos, seja no videogame!
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