Ilha do Retiro. A multidão se aglomera em volta do estádio para assistir o glorioso tricolor paulista contra o decadente alvirrubro pernambucano. Era o início de um domingo inesquecível.
Apesar de saber que se tratava de uma inequívoca roubada, resolvi ir ao jogo, sei lá, para matar a saudade da terra natal por meio do futebol do melhor time do Brasil.
O torcedor do time da casa tinha camarote, cadeira numerada, espaço até pra soltar pipa. Na torcida do São Paulo, eram uns cinco mil no espaço onde caberia, no máximo, dois mil. Mas sou um homem valente, vamos lá, fui criado por uma família de lobos!
Bastou eu entrar no estádio para eu perceber que seria impossível ver o jogo. Mas, diz o consultor empresarial, o bem sucedido é o que vê oportunidade quando está tudo uma merda completa. Pois bem, a merda estava lá, só faltava a oportunidade.
Pois não é que ela apareceu. Começou uma briga, daquelas que todo mundo sai correndo e deixa só os encrenqueiros se estapeando. E lá fui eu, bem para o meio da briga, subindo as arquibancadas até um ponto onde poderia ver a partida perfeitamente.
Começa o jogo. Descubro que meus vizinhos de torcida são os educadíssimos integrantes da torcida independente. Decubro que os educadíssimos torcedores vão agitar suas bandeiras bem na minha frente, o que jogaria no lixo todo meu esforço para chegar a posto tão privilegiado.
As bandeiras se agitam e... De repente, eles começam a gritar: "Solta essa porra dessa bandeira, solta, solta sua puta!" Olho para o lado e vejo uma tiazinha agarrada à bandeira da torcida.
A mulher, talvez por não conhecer as boas maneiras da torcida independente, devolve: "Seus filhos de rapariga! Filhos de rapariga! Estão pensando que são quem!"
A coisa esquenta. Os torcedores, muito sensibilizados com a situação da mulher, gritam: "Quer assistir o jogo vai pra casa! Estamos aqui pra torcer!" E seguem para cima da valente torcedora da terceira idade, prontos a mostrar a ela por que a torcida independente é tão bem vista pela polícia de São Paulo.
Quando a tragédia se anuncia, eis que surge a tropa de choque da PM. Altivos, vão subindo a arquibancada em direção à confusão, com seus escudos e cassetetes. Entram na muvuca e saem de lá com... com a tiazinha revoltada! A independente, que estava acuada por aquela baderneira violentíssima, vibra.
Um dos sujeitos que estava pronto a mostrar o caminho do IML à brutal senhora
grita: "Ela me mordeu!"
Um gigante sem camisa do meu lado fica tão feliz que me abraça. Detalhe: ele estava sem camisa. Detalhe: minha cabeça ficava na altura do suvaco dele. Detalhe: ele gostou tanto de mim que me abraçou o jogo inteiro.
Ah, o São Paulo ganhou de 2 a 1. Fico me perguntando até hoje onde estava aquela truculenta tiazinha na hora que Hugo marcou o gol da vitória aos 48 do segundo tempo. Uma coisa é certa: ela estava longe demais para me proteger do último abraço da partida.
Artur,
ResponderExcluirTo me acabando de rir.. "risos"
Fala Arthur Bambi..
ResponderExcluirVocê já pensou em fazer uma faculdade de jornalismo para se aperfeiçoar nesta profissão??hauhauhua
Se fosse do Corinthians vc ia ver a repercussão!!
Abraço
Nando
muito boa a historia
ResponderExcluirSensacional, Artur!!!
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