Maria Jovelina puxou a mangueira do botijão de gás. Ficou esperando. O cheiro se alastrava pelo pequeno barraco no Jardim Irene, Santo André. Perdeu a noção do tempo. Foi para o quarto improvisado no barraco, formado por tênues divisórias, e ficou observando o marido dormir. Chegara à conclusão de que era melhor acabar com tudo agora. Antes que lhe tomassem tudo depois.
O odor forte havia dominado o ambiente. Pegou a caixa de fósforos. tirou um palito e riscou. O fogo tomou conta. O calor insuportável em todas as partes do corpo não impediu que ela se deitasse na cama e abraçasse com força o corpo de Francisco.
A sensação dos pés pegando fogo acordou o homem forte, que, naquele momento, se sentiu imobilizado. Ouvia alto – e nunca conseguiria esquecer daquilo – o choro. As três vozes se fundiam em uma só dor.
Francisco gritou o mais alto que pôde. Tentou se livrar de Maria, que o agarrava com uma força que não tinha. "Vamos morrer todos juntos", gritava a dona de casa em chamas. Os vizinhos ouviram. Mas demoraram a sair. A explosão do botijão de gás, o barulho de coisas caindo, os gritos. Parecia um tiroteio.
Mas, enfim, o primeiro que botou a cara para fora viu que era incêndio e chamou outros três para tentar o resgate. Todos eles demoraram a conseguir que Maria soltasse o marido. Tempo suficiente para os filhos do casal, Jeferson, 6 meses, Jéssica, 2 anos, e Rodrigo, 6, morressem carbonizados.
O casal foi salvo. Maria correu para não ser linchada e acabou 'escoltada' pela polícia até a cadeia. Detida, a mulher que até então fora boa mãe se justificou. Matou por amor ao marido. "Ele tinha uma amante".
Coluna Arquivo do Crime, publicada em 2006 no Diário do Grande ABC
Nenhum comentário:
Postar um comentário