Dá para medir o tamanho da crise econômica na Europa zanzando por Londres, mais especificamente, pelos porões da cidade. Explico, é que aqui, nos hotéis, restaurantes, lojas, quase sempre, há uma entrada e aposentos para empregados que ficam abaixo do nível da rua. Estou me tornando um verdadeiro especialista em circular por esses labirínticos espaços.
Mas onde entra a crise? No fato de que não só brasileiros, indianos, chineses, africanos, tailandeses e outros imigrantes de países em desenvolvimento estão entre meus colegas de trabalho como garçom, para ganhar seis libras por hora. Também há, cada vez mais, europeus. Gente que fez faculdade, mas está desempregada em seus países. Ontem mesmo, trabalhei com um italiano da cidade de Peruja. Na semana passada, com duas espanholas das Ilhas Canárias. Na outra, uma francesa. Será possível saber que a coisa está afundando de vez quando eu começar a encontrar suíços, alemães ou pessoas de Andorra e de Luxemburgo carregando bandejas.
Tomando uma cerveja em Bricklane, uma espécie de rua Augusta daqui, encontrei João, 43 anos, um sujeito inteligente e bom de papo, que parecia estar feliz por falar a própria língua com alguém. Português, ele já trabalhou em construções e em cozinhas no Reino Unido. Cansou de tudo isso, foi morar numa invasão e espera chegar o benefício do governo. Quer viver às custas da rainha, disse o simpático malandro, enquanto tomávamos umas cervejas pra aquecer uma noite que devia estar pelos seus 3, 4 graus.
Durante o papo, ele botou para correr um mendigo que veio pedir um trago, mostrando sua credencial para vender uma revista beneficente, feita para sustentar os homeless. Perguntei para ele se nunca nenhum inglês demonstrou sinais de xenofobia contra ele. Rapidamente, me vi com um pedaço de ferro sobre o meu pescoço, sem ter como me mover. "Nesses casos, eu digo pra eles: 'Ou você me trata como um ser humano ou...'", disse João, com um sorriso no rosto e colocando de volta o pedaço de ferro em sua mochila. Depois de conhecê-lo, passei a ter certeza de que, assim como os sonhos de padaria e a bacalhoada, o jeitinho brasileiro é um produto importado.
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