sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Cara de brasileiro

Dizem que brasileiro não tem cara. Ô, povo multicultural! Tem brasileiro japonês, negro, índio e, às vezes, até branco. Tudo bem, pois ouçam essa: brasileiro tem cara, sim! E descobri isso aqui em Londres, essa espécie Babel horizontal e com metrô.

Falando em metrô, geralmente é lá que faço minhas constatações sociológicas. Dia desses, estava lá eu pensando em nada, e sentam duas japonesas na minha frente. Algo estranho com elas, parecia que as conhecia de algum lugar. Sei não, pensei. Até que as duas abriram a boca e começaram a fofocar em brasileiro ("... porque fulana... fulana é uma vaca!").

A partir daquele dia, toda a vez que tinha essa sensação, essa coisa de achar que conheço aquela pessoa de algum lugar, só espero a hora de ouvir a pessoa começar a falar português. Tenho comigo uma explicação científica que me veio sem nenhuma análise científica, de que conseguimos reconhecer uma carga genética parecida com a nossa. Se você não acredita, pergunta pra qualquer brazuca que já tenha vivido no exterior.

Claro que há outros métodos de reconhecer brasileiros, como gente furando fila e com a camisa do Corinthians. Mas esses métodos não são 100% seguros, levando em consideração que se encontra gente com mau gosto futebolítico e metido a malandro em qualquer lugar do mundo. Na dúvida, porém, se vejo alguém furando a fila já desato a falar as maiores barbaridades em português. Uma vez, na fila pra entrar na Catedral de Notre Dame, um sujeito com o filho entrou na minha frente. "Olha que vagabundo, com o filho do lado e furando fila", comecei a dizer. O sujeito olhou para minha cara e não disse nada, seguiu em frente. Mas não precisava dizer nada mesmo, porque eu vi, tinha cara de brasileiro.

Estranho que resolvi escrever isso tudo por causa de um cachorro, hoje de manhã. Se tem outra coisa que a gente reconhece na hora, além de brasileiro, é cachorro com más intenções. Estava eu em um parque, fazendo fotos da neve, novidade para qualquer ser tropical pela primeira vez na Europa, quando o pittbull passou me olhando. Eu fingi não ligar, olhei pra outro lado, mas comecei a me preparar pra correr. O cachorro, fingido, foi para o outro lado, deu umas voltas, esperou o dono olhar para o lado e disparou na minha direção. Eu, que não sou idiota, disparei na direção contrária. O dono do cachorro, vendo a cena, chamou a atenção do animal, que abortou a missão. Olhei na direção do sujeito, para ver se ele fazia algum sinal, algum pedido de desculpas. Nada. Ele estava entretido demais gritando com o cachorro. "Que merda é essa! Que merda é essa!", vociferava o sujeito para o animal, em português.

Um comentário:

  1. Falando em metrô, me orgulhava muito o de Porto Alegre. Trabalhei como estagiário nele e conheci a empresa por dentro.

    Achava que tínhamos uma grande opção de transporte na Grande Porto Alegre devido ao desenvolvimento de tecnologia nacional desenvolvido pela Trensurb e fornecedores da região.

    Um amigo meu ganhou uma viagem à Inglaterra e de lá conheceu boa parte da Europa de trem. É covardia qualquer tentativa de comparação entre o trem metropolitano de Porto Alegre com a realidade européia.

    Não sei se os trens que ligam a Europa pertencem ao mesmo sistema do metrô em Londres. O que tu achas do metrô londrino?

    Parabéns pelo blog.

    Abraços

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