segunda-feira, 18 de abril de 2011

Das coisas que deixarei de fazer

Não vou mais flagrar as simpáticas lagartixas rastejando pela ruas cobertas de musgo ou acordarei com a certeza de ter um céu azul sobre minha cabeça. Não cruzarei mais o Rio Capibaribe durante a noite, embasbacado com as luzes das pontes refletidas em suas águas, nem garimparei os casarões antigos poupados pela especulação imobiliária. Não amaldiçoarei mais a feiúra da avenida Norte ou reclamarei do cheiro de mijo no Bairro do Recife. Não vou mais de mesa em mesa, revezando entre central, frontal e lateral, falando com um e com outro sobre desimportâncias, e muito menos tomarei cerveja meio quente no copo de plástico do bar do Seu Vital, no Poço da Panela, o bairro de aura mais fantástica do Norte e Nordeste, incluindo a Bahia. Não ouvirei mais as boas histórias contadas pela incomparável boemia pernambucana e não, nunca mais, serei acusado de carioca por alguém que não tenha o mínimo tino para diferenciar sotaques. Não farei mais piadas sobre maiores avenidas, pessoas ou qualquer coisa em linha reta da América Latina, e deixarei de me impressionar com a parcialidade rubronegra da crônica esportiva recifence. Os poemas de Carlos Pena Filho não se repetirão na minha mente enquanto passeio pela cidade dele e não fugirei mais para um passeio de bicicleta nos sobrenaturais domínios de Francisco Brennand. Está fora de questão, a partir de hoje, comer uma tapioca no Alto da Sé, em Olinda, um almoço no bar do Brilhosinho, naquele beco de Boa Viagem, ou um caldinho de feijão no Fernandos, o melhor da cidade, nos Aflitos. Depois de quase dois anos, entre idas e vindas, o Recife deixa de ser minha casa. Sentirei falta de tudo, das pessoas e das coisas, demais. No tabuleiro da minha geografia sentimental, sempre deixarei um peãozinho amarelo de guarda sobre o Recife.

3 comentários:

  1. Caralho, não tinha lido esse texto aqui. Foda, velho! Saudades de você. Manda um email com o endereço e o telefone, quando for em Sampa te visito!

    Abraço, irmão.

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  2. fala, mano, desculpe a demora em responder... saudades de ti também... não sei se tenho o seu e-mail, mas quando vc estiver vindo pra cá, só me manda um e-mail no artur.rodrigues@gmail.com que a gente combina uma cerveja... abraços

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  3. Adorei!!!!
    Que texto fabuloso!!
    Mas visite-nos sempre que puder!!
    Adriana Ávila
    Meu blog "Vivo intensamente as coisas mais simples!"
    http://vivointensamenteascoisasmaissimples.blogspot.com/

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