Às vezes, me dou conta do homenzinho que vive na minha cabeça. Um workaholic, esse homenzinho. Enquanto eu durmo, ele trabalha. Quando estou distraído, ele está atento. Cientificamente falando, uma mistura de subconsciente, sonho, reflexo e mágica formam o corpo desse sujeito que, por ter nascido na minha cabeça, é de certa maneira irmão dos meus neurônios.
A primeira vez que percebi a existência dele foi durante um jogo de sinuca, esporte nobilíssimo no qual sou um zero a esquerda, apesar das minhas pretenções malandrísticas. Vez por outra, entre tacadas ridículas que arremassam bolas da mesa, ele aparece. É como se por um momento eu estivesse fora e ele assumisse o controle. Pá, pá, pá, três bolas seguidas na caçapa. Detalhe: pelo menos duas eram impossíveis.
Como ele trabalha com qualidade, não quantidade, geralmente acabo perdendo mesmo essas partidas em que ele dá as caras, por total incompetência de fazer desaparecer as bolas que restam.
Aos poucos, fui percebendo que ele é muito mais que um mero jogador de sinuca. Já salvou minha vida algumas vezes, desviando-me de balas de revólver e de ônibus em alta velocidade. Até, certa feita, dando-me força sobrehumana para acertar um direto no queixo de um grandalhão que me estraçalharia com um suspiro.
Vaidoso, ele assume, vez por outra, a tarefa de conquistar mulheres (claro que hoje em dia, por conta do meu estado de seríssimo comprometimento, não lhe dou mais essas liberdades!). Mas, voltando ao assunto, ele, com seu papo mole, várias vezes me viu imerso em minha timidez e assumiu o controle da situação com maestria, gerando consequências que não é de bom tom espalhar.
Fico pensando se foi ele que bateu aquela falta no ângulo, um petardo de direita, meu ponto fraco no esporte ludopédico. Mas, não, isso não importa. O que tem, de fato, importância é que o tal homenzinho guarda no bolso do seu terno um pozinho que faz o impossível parecer piada. Fico imaginando o problemão que vai dar a hora que me fizer sair voando por aí.
Ser pretensioso esse homenzinho que resolveu ser escritor e escrever um texto cheio de elogios a si próprio. Pois é, quem escreve aqui, na maioria das vezes, é ele. Eu fico com o arroz feijão das matérias de jornal. Fulano de Tal, como eu o chamo por falta de nome melhor, prefere investir na literatura, o terreno do impossível.
Um dia, ele ameaça, chega pra ficar e não me deixa mais dar um pio na minha vida. Não acredito. O que me dá esse sossego é saber que ele enjoa rápido de tudo, como aconteceu com esse texto, que abandonou perto do fim. Sujeitinho cheio de gostos e desgostos que é, sempre me deixa seguir em frente, por mais desajeitados que lhe pareçam meus passos.
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