quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Nuvens, cantem o barulho da chuva



As nuvens estacionaram há 20 dias sobre o Recife, sob a justificativa de um vórtice ciclônico. Os nativos tiram suas blusas do armário e gripam quase que por obrigação. Parece que a iminência da chuva oprime os filhos da claridade extrema.

Limito-me a um sorriso cifrado, daqueles que surgem quando torço para os bandidos nos filmes, enquanto todos ao meu lado choram pelo mocinho em perigo. Torço por elas, pelas nuvens. Tão etéreas que poderiam ser sugadas por aspiradores de pó, elas justificam-se. Mandam cartas com remetente e endereço: frente fria, da Argentina; vórtice ciclônico, do Atlântico; massa de ar quente, do Caribe.

De natureza gentil e delicada, mesmo tendo nas mãos os trovões e temporais, as nuvens amansam a tirânia do Sol, que penetra nas frestas, rouba a sombra, cega com sua luz até os olhos mais fechados. É possível sentir a textura macia de algodão ao pronunciar: nuvens, nuvens, nuvens. Fiquem aí, só mais algumas manhãs, tinjam o céu de cinza, encham as ruas de poças d'água, cantem o barulho da chuva.

2 comentários:

  1. tinha que ser paulista, mesmo...

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  2. É, velho, fui criado debaixo de um céu nublado, não posso renegar...

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