segunda-feira, 29 de março de 2010

Nós, os hamsters e a rat race



Uma amiga me apresentou a uma expressão que, imediatamente, casou com uma sensação que há muito conheço. A expressão é rat race. Ao pé da letra, seria corrida de rato, o nome dado para aquelas rodinhas que os hamsters ficam rodando inutilmente nas gaiolas. A expressão é sabiamente usada para definir aquelas épocas em que nos afogamos em nossos empregos _ carreiras? _ e não enxergamos mais nada.

Se você reparar bem, já perdeu vários anos da sua vida feito os hamsters, correndo sem chegar a lugar algum. A diferença é que eles vivem numa gaiola e não têm para onde ir. Você, um ser humano livre, poderia estar em qualquer lugar, mas está se matando para crescer dentro de uma empresa. Você, ser humano adulto, está preso ao que seus chefes e colegas acham de você. Você, ser humano único, passa a achar que é um pedaço da empresa. Você, ser humano o quê?, não sabe mais quem é você.

Passei por isso tantas vezes, muitas delas tendo consciência da roubada em que estava me metendo. Usava desculpas do tipo: "Estou fazendo isso apenas temporariamente, mas não levo nada disso a sério". Daqui a pouco, lá estava eu perdendo fins de semana pensando no trabalho da segunda-feira. Em uma conhecida empresa jornalística paulistana na qual trabalhei, teve gente que saiu da redação de cadeira de rodas, quase explodindo de nervoso, enquanto os tiranos da salinha de vidro ganhavam seus salários de dois dígitos para não fazer nada. Não é à toa que o lugar foi apelidado de sucursal do inferno.

Quando a coisa chega a esse ponto, quando se está prestes a entrar no escritório e atirar na cabeça até da mulher do cafezinho que não tem nada a ver com a história, deveria entrar alguém na cena e dizer: "Pegadinha do malandro!". Ou: "Isso aqui é só uma encenação. Não é de verdade, é uma espécie de reality show, um microcosmo". Ou ainda: "O que acontece aqui só é importante aqui, não no resto do mundo. Vamos, tenha mais senso de humor". Essa pessoa até existe, na nossa cabeça. De tanto ser ignorada, às vezes, resolve não perder mais tempo com a gente. Se déssemos atenção a esses alertas, seríamos mais satisfeitos com a vida, tenho certeza disso. Veríamos as coisas do tamanho que elas realmente são, não na lente de aumento do ambiente corporativo.

Os hamsters, claro, não concordariam com essa teoria, satisfeitos que estão com suas vidas. Longe da gaiolinha cheia de pó de serra, em vez de viver um ano, poderiam durar menos de um mês. Certamente seriam comidos por gatos, cachorros e outros animais famintos. Além disso, não tenho dúvidas de que, fofinhos e inofensivos que são, seriam motivo de chacota entre as escoladas ratazanas. Chego a desconfiar que os hamsters nunca viveram no mundo real. Nasceram nas gaiolas, só para sua rat race. Nós não.

2 comentários:

  1. caralho, artur, gostei desse post, velho! é isso mesmo, cara! por isso que o título do meu blog é Wake Up And Live, levanta e vive, é tudo que é preciso. A vida está ai acontecendo à nossa volta o tempo todo. Precisamos levantar e viver apenas.

    ResponderExcluir
  2. Valeu, meu melho... É esse o espírito mesmo!
    abraço

    ResponderExcluir