Comprei hoje um travesseiro em forma de ferradura e uma venda para os olhos, para estrear já na sexta feita, quando voo para Roma, primeiro destino de uma viagem de cinco dias por cinco países europeus. Eu mesmo já chamei de fresco quem usa esse tipo de apetrecho, mas acabei chegando à conclusão de que vale a pena tentar amenizar o desconforto quando vai se enfrentar longas viagens de ônibus, as mais desconfortáveis de todas, principalmente quando ultrapassam 12 horas. Na falta de um ombro, o travesseiro quebra o galho na hora de dormir no busão. A venda será mais útil nos hostels, já que em quartos com mais de 10 pessoas sempre tem gente saindo e entrando no meio da madrugada.
Os dois itens, compactos, diga-se de passagem, vão contra a minha crença de dimunuir cada vez mais a bagagem. Na minha primeira longa viagem, fiz por merecer o nome dado a esse tipo de jornada, mochilão. Carregava comigo uma daquelas enormes mochilas de 60 litros, com dezenas de roupas e sabe-se lá mais o que. Dessa vez, vou levar apenas uma mochilinha pequena, dessas do dia-a-dia. Comigo, só a roupa suficiente para uma semana; quando estiver tudo sujo, acho uma lavanderia.
Fundamental é levar as roupas certas. Como vou enfrentar o inverno europeu, comprei calças e camisetas térmicas. O par de calças lembra aqueles mijões que botam nos bebês, feio que dói, mas custou o equivalente a 8 reais e parece ser eficaz. Só espero que meus tênis deem conta do recado na hora de enfrentar a neve. Caso contrário, terei de comprar botas.
Fora isso, levo sempre comigo um ou dois livros, caderno de anotações e câmera fotográfica. Espero ter muito que registrar, saindo de Roma para Florença e seguindo de lá para Veneza, Viena, Budapeste, Bratislava e Praga.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
A Europa em cinco quadros
Minha viagem pela Europa tem valido por muitas faculdades. Uma delas, de arte. Abaixo, sem ordem de preferência, segue uma pequena seleção de alguns dos quadros que mais me impressionaram nos museus pelos quais passei até agora.
As Meninas, de Picasso - Museu Picasso, Barcelona
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Cara de brasileiro
Dizem que brasileiro não tem cara. Ô, povo multicultural! Tem brasileiro japonês, negro, índio e, às vezes, até branco. Tudo bem, pois ouçam essa: brasileiro tem cara, sim! E descobri isso aqui em Londres, essa espécie Babel horizontal e com metrô.
Falando em metrô, geralmente é lá que faço minhas constatações sociológicas. Dia desses, estava lá eu pensando em nada, e sentam duas japonesas na minha frente. Algo estranho com elas, parecia que as conhecia de algum lugar. Sei não, pensei. Até que as duas abriram a boca e começaram a fofocar em brasileiro ("... porque fulana... fulana é uma vaca!").
A partir daquele dia, toda a vez que tinha essa sensação, essa coisa de achar que conheço aquela pessoa de algum lugar, só espero a hora de ouvir a pessoa começar a falar português. Tenho comigo uma explicação científica que me veio sem nenhuma análise científica, de que conseguimos reconhecer uma carga genética parecida com a nossa. Se você não acredita, pergunta pra qualquer brazuca que já tenha vivido no exterior.
Claro que há outros métodos de reconhecer brasileiros, como gente furando fila e com a camisa do Corinthians. Mas esses métodos não são 100% seguros, levando em consideração que se encontra gente com mau gosto futebolítico e metido a malandro em qualquer lugar do mundo. Na dúvida, porém, se vejo alguém furando a fila já desato a falar as maiores barbaridades em português. Uma vez, na fila pra entrar na Catedral de Notre Dame, um sujeito com o filho entrou na minha frente. "Olha que vagabundo, com o filho do lado e furando fila", comecei a dizer. O sujeito olhou para minha cara e não disse nada, seguiu em frente. Mas não precisava dizer nada mesmo, porque eu vi, tinha cara de brasileiro.
Estranho que resolvi escrever isso tudo por causa de um cachorro, hoje de manhã. Se tem outra coisa que a gente reconhece na hora, além de brasileiro, é cachorro com más intenções. Estava eu em um parque, fazendo fotos da neve, novidade para qualquer ser tropical pela primeira vez na Europa, quando o pittbull passou me olhando. Eu fingi não ligar, olhei pra outro lado, mas comecei a me preparar pra correr. O cachorro, fingido, foi para o outro lado, deu umas voltas, esperou o dono olhar para o lado e disparou na minha direção. Eu, que não sou idiota, disparei na direção contrária. O dono do cachorro, vendo a cena, chamou a atenção do animal, que abortou a missão. Olhei na direção do sujeito, para ver se ele fazia algum sinal, algum pedido de desculpas. Nada. Ele estava entretido demais gritando com o cachorro. "Que merda é essa! Que merda é essa!", vociferava o sujeito para o animal, em português.
Falando em metrô, geralmente é lá que faço minhas constatações sociológicas. Dia desses, estava lá eu pensando em nada, e sentam duas japonesas na minha frente. Algo estranho com elas, parecia que as conhecia de algum lugar. Sei não, pensei. Até que as duas abriram a boca e começaram a fofocar em brasileiro ("... porque fulana... fulana é uma vaca!").
A partir daquele dia, toda a vez que tinha essa sensação, essa coisa de achar que conheço aquela pessoa de algum lugar, só espero a hora de ouvir a pessoa começar a falar português. Tenho comigo uma explicação científica que me veio sem nenhuma análise científica, de que conseguimos reconhecer uma carga genética parecida com a nossa. Se você não acredita, pergunta pra qualquer brazuca que já tenha vivido no exterior.
Claro que há outros métodos de reconhecer brasileiros, como gente furando fila e com a camisa do Corinthians. Mas esses métodos não são 100% seguros, levando em consideração que se encontra gente com mau gosto futebolítico e metido a malandro em qualquer lugar do mundo. Na dúvida, porém, se vejo alguém furando a fila já desato a falar as maiores barbaridades em português. Uma vez, na fila pra entrar na Catedral de Notre Dame, um sujeito com o filho entrou na minha frente. "Olha que vagabundo, com o filho do lado e furando fila", comecei a dizer. O sujeito olhou para minha cara e não disse nada, seguiu em frente. Mas não precisava dizer nada mesmo, porque eu vi, tinha cara de brasileiro.
Estranho que resolvi escrever isso tudo por causa de um cachorro, hoje de manhã. Se tem outra coisa que a gente reconhece na hora, além de brasileiro, é cachorro com más intenções. Estava eu em um parque, fazendo fotos da neve, novidade para qualquer ser tropical pela primeira vez na Europa, quando o pittbull passou me olhando. Eu fingi não ligar, olhei pra outro lado, mas comecei a me preparar pra correr. O cachorro, fingido, foi para o outro lado, deu umas voltas, esperou o dono olhar para o lado e disparou na minha direção. Eu, que não sou idiota, disparei na direção contrária. O dono do cachorro, vendo a cena, chamou a atenção do animal, que abortou a missão. Olhei na direção do sujeito, para ver se ele fazia algum sinal, algum pedido de desculpas. Nada. Ele estava entretido demais gritando com o cachorro. "Que merda é essa! Que merda é essa!", vociferava o sujeito para o animal, em português.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Crônicas londrinas - o garçom e o popstar
Minha carreira de garçom de terceira classe por pouco não se agiganta nesta semana. A noite parecia nada promissora. Dos cinco enviados pela agência para a qual trabalho a um hotel de luxo em Mayfair, três foram escolhidos para trabalhar em um jantar para cerca de 20 paquistaneses bilionários. Entre os que sobraram, obviamente, estava eu. Não que minha tarefa da noite fosse totalmente prescindível, afinal, alguém tem que polir as taças de vinho para que os convidados não sejam escandalizados por uma eventual marca de dedo em seus copos.
Após mais de duas horas com guardanapo e taças na mão, aparece o gerente do hotel correndo. "Follow me, guys, quick", disse. Eu e a moça que estava comigo, da Etiópia, saímos em disparada atrás dele, que continuou passando as instruções. "Surgiu uma função para duas pessoas essa noite. Um dos convidados é bastante famoso. Vocês conhecem George Michael?"
A minha colega de trabalho começou a dar gritinhos nervosos, enquanto eu pensava que estava prestes a entrar para o seleto mundo dos criados de superstars. "Vocês só tem que abrir a porta, oferecer para pegar o casaco dele e servir canapés." E eu me pus a pensar se conseguiria eu fazer algo errado na concretização de tal tarefa e, fato inédito, não encontrei nada.
Claro que comemorei antes da hora. Os amigos de George Michael chegaram e, na hora de abrir a porta, empurrei para o lado errado. Meu gerente, que estava por perto, me corrigiu. "Sempre puxe a porta, não empurre", disse ele, uma das poucas criaturas educadas que conheci no mundo dos feitores de hotéis. Então, depois disso, me postei lá, feito um soldado, esperando o popstar mais conhecido por fazer sexo em lugares públicos e dirigir alcoolizado que por suas músicas.
Estava satisfeito porque, afinal, teria mais uma história para escrever aqui. Talvez, um texto estilo Piauí: "Vestindo um aveludado casaco Calvin Klein, na altura dos joelhos, George Michael chegou ofegante. Numa mistura de sorriso e careta, difíceis de distinguir por conta da barba desenhada, que lhe dá um ar caricatural, o cantor inglês sussurou um obrigado antes de se desfazer do casaco sobre o criado parado ao seu lado". Ou, quem sabe?, algo mais direto, feito Folha de S. Paulo. "O cantor britânico George Michael, 54, chegou ao hotel X, em Mayfair, Zona Central de Londres, por volta das 8h da noite de ontem. O objetivo da visita era se encontrar com produtores do seu novo disco, Nasci de novo depois da cadeia."
Duas horas depois, parado de um lado da porta, enquanto minha colega estava do outro, percebi que não seria aquela noite que daria tal upgrade na minha carreira na indústria dos serviços de hotelaria. Olhávamos entediados um para a cara do outro. O gerente passou apressado e disse: "Ele não vem. Podem voltar a polir os copos lá em cima". Àquela altura, subimos aliviados, cansados da longa espera, especulando sobre onde poderia estar o cantor. Preso? Em algum acidente de trânsito? Fazendo sexo em um banheiro público? Seja o que for, os jornais não noticiaram nada no dia seguinte.
Após mais de duas horas com guardanapo e taças na mão, aparece o gerente do hotel correndo. "Follow me, guys, quick", disse. Eu e a moça que estava comigo, da Etiópia, saímos em disparada atrás dele, que continuou passando as instruções. "Surgiu uma função para duas pessoas essa noite. Um dos convidados é bastante famoso. Vocês conhecem George Michael?"
A minha colega de trabalho começou a dar gritinhos nervosos, enquanto eu pensava que estava prestes a entrar para o seleto mundo dos criados de superstars. "Vocês só tem que abrir a porta, oferecer para pegar o casaco dele e servir canapés." E eu me pus a pensar se conseguiria eu fazer algo errado na concretização de tal tarefa e, fato inédito, não encontrei nada.
Claro que comemorei antes da hora. Os amigos de George Michael chegaram e, na hora de abrir a porta, empurrei para o lado errado. Meu gerente, que estava por perto, me corrigiu. "Sempre puxe a porta, não empurre", disse ele, uma das poucas criaturas educadas que conheci no mundo dos feitores de hotéis. Então, depois disso, me postei lá, feito um soldado, esperando o popstar mais conhecido por fazer sexo em lugares públicos e dirigir alcoolizado que por suas músicas.
Estava satisfeito porque, afinal, teria mais uma história para escrever aqui. Talvez, um texto estilo Piauí: "Vestindo um aveludado casaco Calvin Klein, na altura dos joelhos, George Michael chegou ofegante. Numa mistura de sorriso e careta, difíceis de distinguir por conta da barba desenhada, que lhe dá um ar caricatural, o cantor inglês sussurou um obrigado antes de se desfazer do casaco sobre o criado parado ao seu lado". Ou, quem sabe?, algo mais direto, feito Folha de S. Paulo. "O cantor britânico George Michael, 54, chegou ao hotel X, em Mayfair, Zona Central de Londres, por volta das 8h da noite de ontem. O objetivo da visita era se encontrar com produtores do seu novo disco, Nasci de novo depois da cadeia."
Duas horas depois, parado de um lado da porta, enquanto minha colega estava do outro, percebi que não seria aquela noite que daria tal upgrade na minha carreira na indústria dos serviços de hotelaria. Olhávamos entediados um para a cara do outro. O gerente passou apressado e disse: "Ele não vem. Podem voltar a polir os copos lá em cima". Àquela altura, subimos aliviados, cansados da longa espera, especulando sobre onde poderia estar o cantor. Preso? Em algum acidente de trânsito? Fazendo sexo em um banheiro público? Seja o que for, os jornais não noticiaram nada no dia seguinte.
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