terça-feira, 3 de março de 2009

Homens ao mar

As contas bancárias em metástase acabaram. Viraram reminiscências quase infantis, jogadas displicentemente na prateleira dos problemas matemáticos e das contas de dividir com vírgulas.

O cartão de crédito virou o pedaço de plástico que nunca deveria ter deixado de ser.

Os jornais com as notícias que eu não lia mais deixaram de ser arremessados todas as manhãs pelo motoqueiro pontual e barulhento.

Horas de confronto contra atendentes de telemarketing, no infinito campo de batalha telefônico, valeram a pena.

No conforto do único par de tênis, a mensalidade do carro, o seguro do carro, a gasolina do carro também não preocupam.

O expediente acabou. O eterno expediente. A vida inteira debaixo de um céu de ferrugem, digitando histórias vermelhas de personagens reais, de gente que ultimamente mais me parecia manequim de loja, personagem de desenho animado, parafuso a parafusar.

Saí inteiro dos escombros. O crachá tatuado no meu peito, mais uma cicatriz perdida entre as marcas do skate, do futebol e das brigas de rua.

As noites nos bares, sucedidas e antecedidas pelas manhãs de ressaca no batente, se foram. Por enquanto. Espero que as noites voltem, mas desacompanhadas das já citadas manhãs.

O dente quebrado, que balançava na boca, driblava a comida e chacoalhava os nervos foi parar num copinho de plástico, desses de café. Mas só depois de uma amputação a sangue frio, daquelas que acontecem no meio de trincheiras, com balas zunindo, gritos de dor, cheiro de carne ainda viva.

Não dói mais.

De uma vasta planície ainda disforme, posso ver tudo o que não é meu. Até onde as vistas não enxergam mais.

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