Tom fez aula de gaita, violão, trombone, sanfona, pintura, leitura dinâmica, curso de detetive particular por correspondência, origami, frenologia, grego, francês, latim, esgrima, pólo aquático. Mas ia largando uma coisa para começar outra, sem nunca terminar nada, com outra e mais outra paixão a vista.
Com as namoradas era a mesma coisa: começava o namoro, mas quando acabava o começo perdia o interesse. Certa vez casou e se separou na mesma noite, com uma prostituta que não batia muito bem. O divórcio custou-lhe duas garrafas de uísque e um maço de cigarros, mas lhe rendeu o status de divorciado, novidade muito bem-aceita. Escreveu primeiros parágrafos de romances de 600 páginas que deixariam Juan Rulfo, Nabokov, Julio Cortazar e Kafka morrendo de inveja, se as outras 599 páginas viessem depois. Profissões ele teve várias, desde contador a artista de circo, passando por policial, encanador, lavador de pratos, amanuense, mágico.
Aos 70 anos se viu sozinho, sem dinheiro, sem família, sem nada, que não fossem os vestígios de todas as suas paixões, tudo amontoado pela casa. Pensou no irmão mais novo, médico, doutorado, mulher e onze filhos, quinze netos, dois bisnetos. Sentiu inveja dele, mas o sentimento não durou muito até se tornar tédio. Uma nova idéia: resolveu abrir um antiquário para livrar-se de todas as suas traquitanas, entre as quais, podia se encontrar uma enorme coleção de maços de cigarro, uma guitarra que havia pertencido a Jimmi Hendrix e um papiro egípcio raríssimo, que aprendeu a ler depois de algumas aulas de hieróglifo.
Já a beira da morte, apaixonou-se pelas enfermeiras. A cada troca de turno era uma nova alegria, um novo rosto. De noite, já não lembrava mais da enfermeira da manhã, pela qual fora apaixonado loucamente e seria no dia seguinte. Quando a morte chegou, viu a nova empreitada com felicidade, deixando de lado o iô-iô, seu mais novo hobby.
Ps. Um conto que escrevi há muito tempo, mas que inspira minha nova vida
Uia... tem um pouco do Cltn neste post...
ResponderExcluirSempre é bom mudar de vida de vez em quando!
Beijo
Cris