terça-feira, 26 de maio de 2009

Rios, pontes e overdrives ou observações clichê de um migrante desocupado

Ponte Santa Isabel, Capibaribe
Barra Funda, Tietê


Chove no Recife, e eu não tenho nada o que fazer. O rio Capibaribe fica cheio até a borda, muito mais bonito, compensando as enchentes que, provavelmente, se espalham pela cidade, cercando amigos e inimigos.

Todo mundo diz o mar, mas o que me encanta aqui é mesmo o rio _ com as pontes, claro. De onde eu vim, o maior rio, o Tietê, foi transformado num riacho forrado de cimento. (Uma estrangeira chegou a me perguntar como era o nome do córrego que ficava na marginal. Ahn?).

As pontes do Tietê não são simplesmente pontes, são viadutos, com alças de acesso, saídas mil, um monte de concreto suspenso para caber mais carros, uma obra de arte voltada a construir o maior engarrafamento do mundo.

Aqui, são quase todas as mesmas construídas sei lá quantos séculos atrás, bonitas, vistosas; suas luzes refletem na água durante a noite. Têm um objetivo claro: chegar de um lado a outro, sem o perigo de pegar o acesso errado e voltar para onde se vinha.

Tem quem pegue um pedaço de fio de náilon e arremesse do alto da ponte, sente-se no parapeito e espere algum peixe distraído. A molecada, mesmo sabendo que é sujo, salta lá do alto e sai nadando, contente que só.

Quando alguém pula no Tietê, aparece no jornal. Um dia um bombeiro salvou um moleque que pulou lá dentro. Todo mundo imaginou que eles fossem derreter naquela vitamina batida com venenos industriais e bosta de 10 milhões de pessoas, mas eles saíram vivos. De qualquer maneira, foi um acontecimento.

Agora o rio, mesmo que ficasse limpo, nunca ressuscitaria, perseguido que é por aquele cortejo maluco de um milhão de carros-dia. (Tenho um amigo aspirante a ditador de SP que, em seu primeiro ato, demoliria a marginal e devolveria ao rio o seu traçado original. Talvez assim haja esperança...)

Por enquanto, não há marginal que meta medo no Capibaribe. Que ele continue sempre, como reza o clichê pernambucano, se juntando com o rio Beberibe para formar o mar, quer dizer, o Oceano Atlântico.

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