domingo, 24 de maio de 2009

Ela, a única

Quase morri várias vezes. Cada uma delas serviu para dar um valor ainda maior à vida que sobreviveu e, paradoxalmente, um medo cada vez menor da morte. A morte, besta ou épica, tropeção no chuveiro ou agonia prolongada em um leito antisséptico, é certa. A vida, incerta por natureza, se torna muito mais preciosa quando chega perto do fim e volta, por instinto ou quem sabe missão, rumo ao tempo que lhe resta, superiora, serena, cosmopolita. Incrédulo que sou, nego em público fenômenos mais poderosos, mas sou tentado a acreditar em destino. Se sobrevivi a tantas mortes, não posso deixar de pensar que ainda não desperdicei todas as oportunidades a mim reservadas. Uma certeza pétrea me diz mais: que as outras mortes que quase morri eram apenas afagos, sinais mandados pela verdadeira, a que me consome desde que nasci, a que tem meu nome gravado na pele.

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