terça-feira, 5 de maio de 2009

Humano, demasiado...

Se já não posso ser mais guilhotina, marreta, violão, bicicleta, escavadeira, máquina de escrever, relógio, computador, devo voltar a ser homem? Meus genes ancestrais lembram como se faz, mas, acostumados a serem engrenagem, talvez tenham preguiça de voltar à sua natureza de microinteligência evolutiva. Enquanto eles não se decidem, passo meu tempo abrindo caixas misteriosamente luminosas e dando atenção a todas essas vozes que, súbitas, desatam a falar futilidades nos meus ouvidos. Até quando, até quando, pergunto ao fantasma do deus morto que, fingindo dores causadas pela faca há muito cravada e fossilizada no peito, me persegue. Mesmo sendo só espectro do passado, mera imaginação de si mesmo, ele não desceu do salto e, altivo, continua a ignorar meus apelos, como fazia em seus tempos de glória.

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