quinta-feira, 25 de junho de 2009

Adoráveis mentirosos

Eu tenho um costume muito questionável: roubar as histórias alheias. Sabe aquela história tão boa, tão boa que você queria que tivesse acontecido com você? Pois é, aquela história que talvez sequer tenha acontecido com o sujeito que lhe contou? Então, descaradamente, roubo esse tipo de história.
Não saio simplesmente contando a história do outro. Me coloco no papel dele. Foi comigo que aconteceu aquilo, não com ele. Com o tempo, passo a acreditar na minha própria mentira a ponto de contá-la ao dono do causo.
Minto pouco, se comparado aos mentirosos profissionais. Aqueles simpáticos, que, quando sentem que o papo vai murchando, tratam logo de inventar uma história boa pra passar o tempo _ não os que mentem pra contar vantagem, claro, que esses são do tipo mais comum e insuportável. Ariano Suassuna conta que o Chicó, aquele do Auto da Compadecida, existiu de verdade. Quando alguém começava muito a questionar-lhe as mentiras, retrucava: "Você quer ouvir história ou quer discutir?".
Tenho vários amigos mentirosos da melhor qualidade. Não vou citá-los aqui pra não acabar não acabar com a magia que os cerca. Por excesso de talento, os "acontecimentos" contados por eles chegam a ser irroubáveis. Explico: de tão absurdos, soariam ridículos se não saíssem da boca de profissionais.
Tem um camarada que trabalhou comigo no jornal que é assim: até o sobrenome dele é inventado. Basta fulano reclamar que uma pomba lhe cagou na cabeça pra ele desandar a contar o dia em que uma águia careca americana pousou na cabeça dele e botou um ovo. A descrição conta com tamanha riqueza de detalhes que, apesar de ninguém acreditar em nada daquilo, todos se espantam de ter passado 40 minutos ouvindo tamanha maluquice.
Para isso, porém, é preciso talento. Qualidade que não me veio de berço, mas que, com muito suor, pretendo conquistar. Aos 80 anos, quero ser um grandissíssimo mentiroso. Ando treinando, ainda timidamente, roubando uma história aqui, inventando uma meia verdade ali, exagerando mais um pouco acolá, quase nem se nota. Por isso, se você perceber que recontei uma história sua, tenha paciência com um mentiroso em formação. Um dia, passará despercebido.

6 comentários:

  1. haha...
    Quando comecei a ler este texto lembrei do Guerô. Não sei pq! rs
    Você poderia ter contado aquela história do tiro... Mas não aquela, a do outro dia... rsrsrs

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  2. Eu também lembrei... rs... Mas não levarei a público essas indiscrições tão pessoais...

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  3. Espero, espero mesmo, que a história do vale-refeição na rua dos Andradas tenha acontecido com você. Perderia a graça se tivesse sido com outro, rs.

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  4. Infelizmente, essa história aconteceu comigo... rs Meu irmão que apanhou das putas por três andares dps que viram ele com uma câmera que o diga...

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  5. Ha ha. Sei de quem você está falando. Sobre as minhas histórias, não invento nada, o jeito de contar é que dá um caldo, vc muda algumas aspas, gesticula, faz as pausas corretas e pronto. Está ali uma ótima história ready-made que garante a diversão no bar. Para coroar, quanto mais vc conta, melhor fica, com os ajustes e as adaptações aos ouvintes. Um conselho: faça mais insanidades para que novas histórias eclodam.

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  6. Bom... já que fui chamado à discussão, acho que é minha obrigação confirmar os fatos. Realmente o caso do 69 é verídico, realmente eu apanhei e realmente o Artur tem o hábito de roubar histórias.

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