Não basta eu abrir a porta e ir embora. O céu ainda será moldado por essas janelas, o barulho da chuva continuará a batucar sobre as telhas e alguém respirará esse mesmo ar que eu respiro. Mesmo que esteja longe daqui – não consigo entender por que todos vocês me olham tão assustados quando digo essas coisas – mesmo que eu esteja a um zilhão de quilômetros daqui, o estrago estará feito. As raízes espreguiçaram-se por terrenos pantanosos, espalharam-se por tudo, que já não é possível plantar um pé de feijão que seja no meu peito. O pomar continua dando frutos, que caem e apodrecem gerando mais árvores e mais frutos, e o cheiro torna-se cada vez mais insuportável, e não há nada, não, nada, que possa ser feito a essa altura, quando tudo não para mais de apodrecer, mesmo o que ainda está para nascer. Não, não basta que eu feche os olhos, tape os ouvidos, prenda a respiração. Sei que vocês me olham muito incomodado por dizer tudo isso assim, no meio de seja lá o que for de mais importante que vocês tenham a fazer, posso ver os dedos de vocês coçando para carimbar, grampear, rubricar, adivinho a música das teclas dos telefones, o deslizar das cadeiras pelo piso frio, as dobradiças enferrujadas reclamando, suas mentes repetindo: inconveniente, inconveniente, inconveniente, mas, para ser sincero, essa impaciência toda me entretém. Sei que sou só um nesse caminho, não importa que tenha inventado a lava, a água, o enxofre. Não importa que tenha visto vocês pequenos, rindo feito maçãs e abutres, comendo feito esterco e baratas, crescendo feito nuvens e orvalho. Não importa que vocês não fossem nada, sei que agora vocês olham e pensam, julgam, acima de tudo, julgam, sentados, andando para um lado e para o outro, rezando aqui e ali, implorando nesse canto e naquele. A verdade é que não basta mais que eu vá embora, nem para mim nem para vocês. Não basta que esqueça esse planeta cada vez menos azul nesse canto do mundo, que transforme tudo isso em poeira no meu pensamento. Tem que acabar. Enquanto tudo isso continuar existindo, corroendo-me, mesmo que confortavelmente num sótão qualquer, eu mesmo existirei pela metade. Para que eu tenha sossego novamente – e não pensem que me comovo com seus choros e pragas, arrependimento, abraços, lágrimas, apelos, promessas – para que, bem, para que, é preciso que eu ponha um ponto final em tudo, não uma vírgula, um ponto final para que só sobre minha paz e o silêncio.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
Você que é feito de azul
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Reconhecimento
Você deveria agradecer, dizem eles, enquanto apagam bitucas de cigarro nos meus olhos.
Estou amarrado a uma cadeira de barbeiro, dessas antigas, forrada de couro, apoiando meus pés em um suporte de ferro. Está muito calor, mas sinto lufadas de ar frio que me dão arrepios.
Tantos queriam estar sentados nessa cadeira, diz um deles, com um sorriso boçal desenhado nos lábios, que já não posso enxergar com meus olhos que já não passam de geleia.
Você precisa ver que ordens são ordens, completa o outro, esmagando a ponta do meu indicador com um alicate. Sabemos que isso tudo não é necessário, mas estamos fazendo só para garantir, continua ele, gentilmente.
Sinto uma pontada na perna e percebo que alguém começa a tirar a minha pele com uma faca, como se descascasse uma batata.
Você precisa ser menos intransigente, as coisas são assim mesmo, temos pesquisas que comprovam isso, ouço, pouco antes de ter minha orelha esquerda decepada com uma faca de lâmina quase cega.
O sangue morno molha meu corpo inteiro. A dor que sinto são muitas que se emendam numa poderosa combinação de ardência, pontadas agudas, desesperança, tremores, cócegas e suor frio.
Você tem que entender que nós temos responsabilidades, falam todos ao mesmo tempo. Se alguma coisa der errada, somos nós quem temos de responder a ele.
Apesar de ainda preservar minha língua comigo, há muito desisti de responder o que penso. As palavras já não significam mais nada aqui. Além do mais, é difícil fazer-se entender com o barulho dessa serra elétrica que usam para decepar meu braço direito, na altura do ombro. As faíscas que resultam do atrito entre minha clavícula e a serra giratória pinicam no meu pescoço.
Com o mercado como está, dificilmente alguém teria os privilégios que se tem aqui, diz uma voz longínqua, que ecoa lentamente.
Sei que o cara que está sentado na cadeira ao lado da minha concorda. Da última vez que vi, tinham-lhe feito no rosto um sorriso permanente, esticando-lhe a boca de orelha a orelha com um estilete, que dava a ele uma aparência ainda mais estúpida e subserviente.
Um volume de peso mediano é colocado sobre o meu colo.
Para mostrar o quanto reconhecemos o seu esforço, estamos lhe presenteando com essa cesta de produtos de...
A voz masculina e irritantemente aguda desaparece. O sumiço total das vozes coincide com a sensação de que uma broca atravessa meu crânio, de ouvido a ouvido. O silêncio me traz uma sensação de aconchego. Sinto-me massageado por todo o corpo.
Diria que estou no céu, não fosse o cheiro de carniça que impregna o ambiente.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Plantão de domingo
João tinha nas faces aquele rubor de quem vem correndo. Não corria, não. Andava sossegadamente, só com a pressa natural com que nascera, a impaciência de quem sempre está alguns segundos atrasado.
Apesar da mochila nas costas, carregava um livro com contos de Tchekov debaixo do braço, como fazem os crentes mesmo com as bíblias mais pesadas.
Descia a rua Augusta que, naquela tarde de domingo, fazia jus ao nome. Apesar do lixo, dos carros e do barulho, havia o sol brilhando, o raríssimo e fundamental céu azul; casais de velhos passeando de mãos dadas; adolescentes ruidosos competindo quem tinha o cabelo mais azul, vermelho, rosa, o maior piercing; amigos dando risada e bebendo cerveja; as pessoas sendo levadas pelos cachorros para passear.
Olhava as vitrines degustando as coisas antigas: chapéus, cachimbos, livros amarelados, roupas antiquadas, que as traças haviam mordiscado.
Dobrou à esquerda na praça Rooosevelt. Gente de teatro bebia nos bares, namorados se agarravam encostados nas árvores. No bar do Estadão, pediu um lanche de pernil, que de tempos em tempos regava com o molho de pimenta, antes das mordidas que enchiam-lhe a boca, para em seguida refrescar-se com goles da cerveja da garrafa verde, gelada e amarga.
Saiu de lá quase flutuando, o prazer da boa comida irradiando pelas veias. Atravessou a avenida São Luiz fora da faixa, pulou o mendigo que dormia no canteiro, cruzou a praça da República. Cortou caminho pela galeria do Rock, lotada de gente tatuada, carecas rascistas convivendo com os manos do rap, numa espécie de guerra fria, aliviada pelo frescor meninas bonitas e suadas que passavam.
Olhou o relógio. Sim, estava quase na hora. Afastou aquele pensamento da cabeça. Sabia que em poucos minutos chegaria ao prédio cinza. O azul do céu estava menos azul. Algumas nuvens montavam grupinhos no céu, cochichando.
Seguiu olhando para os pés, os tênis Adidas meio sujos, chutando latas, desviando de ratos mortos. Esbarrou com alguns zumbis que ostentavam cachimbos nas mãos. Ouviu dialetos, provavelmente africanos, completamente incompreensíveis. Evitou olhar qualquer um nos olhos com medo de vislumbrar o prédio cinza.
Quando já estava no limite, cérbero latindo nos seus calcanhares, abriu a mochila, jogou o livro lá dentro, pegou o crachá. Na foto, sorria um sorriso sem graça, parecido com o de Judas ao vender Jesus.
Ao entrar no edifício, os olhos demoraram a acostumar-se com a falta de luz. Encostou o crachá na catraca, que emitiu um som agudo e liberou o acesso. Esperou o elevador ao lado de um cara de rastafari. Entrou no cubículo metálico e apertou o sete.
A porta se abriu. Andou alguns metros até a máquina de café. Apertou dois botões: sem açúcar, longo. Quando o café ficou pronto, o letreiro agradeceu: obrigado. Com o copo de plástico na mão, pela primeira vez, encarou a redação vazia, fileiras e fileiras de mesas desocupadas.
Sentou-se na mesa desarrumada, coberta de papéis, canetas, copos plásticos de café vazios, embalagens de chocolate. Ligou o computador. A tela se acendia quando ouviu os passos atrás de si. Ficou imóvel, fingindo prestar atenção no brilho que aumentava à sua frente. Um barulho metálico ressoou nos ouvidos, antes do estrondo, a explosão nos seus tímpanos, os miolos voando sobre o monitor.
***
Quando abriu os olhos, haviam se passado 12 horas, notou pelo relógio no canto do monitor. Levantou a cabeça do teclado, ainda tonto, o sangue escorrendo-lhe da boca. Abriu o zíper da mochila, achou um saco plástico, onde guardou os miolos que haviam se espalhado pela tela e pela mesa. Com um guardanapo, limpou o que restava.
Desligou o computador, desceu o elevador, encostou o crachá na catraca e ouviu novamente o barulho agudo liberar a saída, sentindo alguma dor de cabeça. Ao pisar na rua, jogou o crachá na mochila, o saco plástico manchado de vermelho, e olhou para o céu. A lua estava enorme, amarela, quase totalmente redonda, crescente, cheia, não soube ao certo. Nenhuma nuvem.
Respirou fundo, o pulmão acostumando-se com o oxigênio novamente, e seguiu sem olhar para trás rumo à segunda-feira.
domingo, 9 de outubro de 2011
Clandestinos
Em fuga, africanos acabam vindo para o Brasil escondidos
Semanas sem comida, higiene zero, parcialmente debaixo d’água no porão de um navio. Clandestinos vindos da África enfrentam jornadas de 6 mil km que duram até um mês atrás de oportunidades de emprego, refúgio e até um amor em outro continente. Alguns morrem pelo caminho.
Neste ano, a Polícia Federal no porto de Santos registrou 16 clandestinos em cargueiros vindos da África. “Num caso em 2010, cinco pessoas vieram no compartimento do leme. Só dois chegaram aqui”, diz o delegado da PF Vilton Gomes de Souza.
Os clandestinos têm perfil definido. São homens, jovens, para aguentar a viagem, sem vínculos familiares, de países como Nigéria, Camarões, Togo e Gana.
Eles se escondem em espaços diminutos, nos compartimentos do leme, da âncora e do guindaste dos cargueiros _que voltam vazios da África após saírem carregados de açúcar do Brasil.
Muitos decepcionam-se ao descobrir que, em vez de desembarcar na Europa, estão no Brasil. Por esperar uma viagem curta, a comida que levam acaba. “Ficam com fome e se apresentam à tripulação”, diz Souza.
Em Santos, na maioria das vezes, os clandestinos têm desembarque autorizado. Quem arca com o custo até que sejam mandados de volta são os navios. A multa é de R$ 827,75. Porém, os gastos podem chegar a R$ 40 mil com hospedagem, tratamento médico e passagens aéreas para repatriação. É raro que consigam o visto de refugiado para ficar.
São inúmeros os motivos para encarar uma viagem que pode ser mortal. Há relatos de que, na Europa, alguns países dão dinheiro para que imigrantes voltem, o que gera clandestinos profissionais. Atualmente, há um estrangeiro preso em Santos por se recusar seguidamente a embarcar no avião de volta ao seu país. Queria o equivalente a R$ 17 mil para ir embora. “No Brasil, seguimos a legislação. O estrangeiro que se recusar a entrar no avião vai preso”, diz Maurício Alves, diretor da Proinde, empresa que cuida da hospedagem e repatriação dos imigrantes no Brasil.
Há africanos que fogem da guerra, da perseguição religiosa e da fome. Mas há também quem fuja da saudade. No começo de setembro, um camaronês de 22 anos chegou ao Brasil no leme de um navio de Cingapura. Havia viajado por duas semanas, passado fome por cinco dias neste período e sofrido com malária. Meses antes, já havia sido flagrado no Porto de Santos e mandado de volta à África. À PF disse que o motivo de encarar de novo a viagem tem nome: Luana, uma moça que conheceu em São Vicente. Apaixonado, já não consegue mais ficar longe dela.
Aos 31 anos, o nigeriano Osas Destiny Onaiwu pode dizer que é mestre em escapar da morte. Quando conseguiu entrar como clandestino em um navio, havia acabado de tomar um tiro de espingarda calibre 12 .
“Parecia que haviam jogado areia quente nas minhas costas”, lembra.
Era fim do ano 2000 e a cabeça dele havia sido pedida por um militar, pai da namorada que engravidou dele e morreu em um aborto. “Um amigo meu era segurança do navio e me colocou para dentro”, diz ele.
O esconderijo foi o compartimento da âncora. Todo alimento eram pedaços molhados de pão. “A comida acabou. Fiquei três dias sem comer.” Com medo de ser jogado ao mar, foi o último dos oito clandestinos a se apresentar à tripulação. A hospitalidade surpreendeu. Após 35 dias, estava no Brasil.
Aqui, a sorte mudou. Legalizou sua situação e formou a banda de reggae Conexão Baixada. Fez sucesso e chegou a fazer turnê com Chorão, do Charlie Brown Jr.
Há dois anos, após disputa dos direitos autorais, saiu da banda. Hoje, para sustentar o filho de oito meses, vende lanches com a mulher brasileira.
Usando o nome Jamaicaboy, também faz shows solo (veja a agenda no site www.jamaicaboy80.blogspot.com). Fala português, mas compõe em inglês. O nome do último CD resume a vida do clandestino que virou artista: “My Dream Came True”, em português, “Meu Sonho Virou Realidade”.
Navios jogam invasor em mar por economia
Navios de países pobres costumam jogar clandestinos no mar para evitar arcar com os custos, segundo relatos de quem já viajou ilegalmente. “No porto de Lagos, na Nigéria, apareciam vários cadáveres de pessoas que haviam embarcado dias antes”, conta Osas Destiny.
Segundo ele, esse tipo de crime era cometido principalmente em águas africanas, onde há pouca fiscalização. A tática seria mais adotada por navios indianos, africanos e chineses.
Também há capitães de navio que jogam os invasores em barcos. Dessa maneira, os clandestinos são recolhidos por outros navios, mas como náufragos, cujos custos são pagos pela ONU.
No Brasil, os navios também têm suas táticas para tentar evitar pagar o custos dos estrangeiros. Em 2009, a Polícia Federal autuou um capitão que foi flagrado tentando despejar um imigrante numa favela de Santos.
'Eles chegam com o cheiro dos mortos’
Lotado em Santos, ele atuou nos anos em que mais clandestinos chegavam ao Brasil, de 2003 e 2006. “Houve alguns anos em que chegaram mais de cem”, conta Scandiuzzi.
Naquela época, o que mais chocou foi o grau de pobreza dos homens que entrevistava. “Eles vinham de lugares em que costumavam varrer o arroz que caía no chão do porto para comer. Era muita fome”, conta.
Segundo ele, durante a travessia, a maioria leva pouca coisa na viagem. Muitos sucumbem e acabam bebendo a água do mar.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Meu jardim
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
O pequeno anarquista dentro de mim
Aos poucos, fui aprendendo a reconhecer essa voz. Às vezes, com irritação, porque todos querem ser aceitos. Outras, com orgulho, porque ninguém quer ser só mais um na manada. Quem falava era o pequeno anarquista dentro de mim, um sujeito extremamente radical que me fez detestar ricos e chefes desde sempre, por saber que só se vira rico ou chefe passando por cima dos outros, da liberdade e do direito dos outros.
Quando decidi virar repórter, uma das minhas maiores motivações era poder fazer alguma coisa contra os policiais militares que nos esculachavam na rua _ por nós, digo a molecada da periferia, que andava de skate e ficava bêbada de vinho vagabundo. Nos meus primeiros anos de carreira, descobri grupos de extermínio, acabei ameaçado, fui responsável pelo afastamento de dezenas de policiais. Mais adiante, fui notando que muitos PMs eram apenas os braços de algo muito maior. Em uma série de matérias, consegui o afastamento de uma juíza corrupta, que se achava a dona de uma cidade. Em outra escala, descobriria eu, também ela era microscópica.
Meu grilo falante subversivo ficou satisfeito por um tempo. No entanto, ele era perspicaz, sabia que a felicidade era um sentimento comodista, diferente pela busca pela felicidade, que nos faz mudar e mudar. Ele me fez notar que, como jornalista, eu mesmo sou um conformado. Os jornais, da forma como se constituem, com uma sala de vidro no meio, onde sentam os oráculos da chefia, são instrumentos de repressão tanto quanto um quartel da PM. O mesmo veículo que fala sobre trabalho escravo pode obrigar um funcionário a trabalhar 20 horas diárias. O psicopata cerebral pode torturar com o poder da mesma forma que faz o psicopata visceral com uma faca.
Larguei por um tempo dos jornais. Viajei, li, me apaixonei, enlouqueci, saí de mim. Depois disso, o apetite do meu baderneiro interior por subversão foi ficando desproporcional. Tento saciá-lo com porções de Clube da Luta, Taxi Driver, Laranja Mecânica, doses do meu mestre Kafka, pílulas efervescentes de Clash e Racionais e, menos freqüentemente, uma injeção cavalar de Nietzsche.
Sei, porém, que tudo isso não passa de paliativo. Quando obedeço a uma ordem com a qual não concordo, curvo-me a um superior hierárquico sacana, finjo não estar ligando para os pés que esmagam a mim e aos meus companheiros, não consigo desviar os olhos do verdadeiro tirano, o que dá poder a PMs, juízes, chefes e presidentes: o sujeito no espelho, buscando diversão, alívio, conforto, felicidade, admiração, seja lá o que for. Esse sim é o grande e verdadeiro adversário do pequeno anarquista.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
O repórter corno
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Terrena comédia
É estranha a sensação de se pisar nas nuvens quando se queima no inferno. Mesmos enquanto esses pequenos demônios divertem-se rasgando a minha carne com seus tridentes desproporcionais, não consigo deixar de deter-me para olhar a beleza do céu às cinco da tarde. Há um sol delicado, que faz concessões à sombra, compondo um amarelo desbotado que não machuca os olhos e que parece casar harmoniosamente com o vermelho intenso do resto da paisagem. O cheiro da carne tostada se dilui num perfume poderoso, adocicado e juvenil. Não chegam aos meus ouvidos os gritos dos outros, em desespero, apenas a reminiscência de uma voz suave, sussurrando que estou no céu.