terça-feira, 9 de agosto de 2011

Terrena comédia

É estranha a sensação de se pisar nas nuvens quando se queima no inferno. Mesmos enquanto esses pequenos demônios divertem-se rasgando a minha carne com seus tridentes desproporcionais, não consigo deixar de deter-me para olhar a beleza do céu às cinco da tarde. Há um sol delicado, que faz concessões à sombra, compondo um amarelo desbotado que não machuca os olhos e que parece casar harmoniosamente com o vermelho intenso do resto da paisagem. O cheiro da carne tostada se dilui num perfume poderoso, adocicado e juvenil. Não chegam aos meus ouvidos os gritos dos outros, em desespero, apenas a reminiscência de uma voz suave, sussurrando que estou no céu.

domingo, 31 de julho de 2011

Autorretrato no pântano

E quando o musgo crescia apressado para imobilizar minhas pernas e braços, os insetos alojavam-se confortavelmente nas cavidades do meu corpo, a pupila e a íris desmanchavam-se no branco dos olhos, eis que surge, renitente, um raio de luz.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Do outro lado do espelho



As coisas que acontecem aqui não acontecem lá do outro lado do espelho. As oportunidades perdidas, os vacilos, os compromissos desmarcados, o inexplorado, o não dito: todos espremem-se na moldura quadrada para me observar, feito um animal no zoológico. Há momentos em que vejo pena nos olhos deles; em outros, só rancor; quase sempre uma curiosidade que beira o sadismo. Desvio o olhar, assovio e finjo me entreter brincando com os polegares nervosos. De esguelha, percebo que não há mais ninguém observando. Assustado, colo minha cara no vidro para procurá-los, os fantasmas.

domingo, 10 de julho de 2011

O domingo de cada um

Há o que acorda com a barulheira dos filhos, assiste TV, rabisca as contas de casa num papel, procura os carnês das Casas Bahia, entope-se de cerveja e dorme no sofá, roncando só o suficiente para dar a segurança para a mulher de que está ali mesmo, viril como um Homer Simpson, empalhado.

Há o que acorda cedo, coloca um agasalho de tactel, corre 15 quilômetros, para na barraca de frutas e pede um suco, enquanto o vento gelado se choca contra a pele quente, fazendo com que um vapor saia suavemente das narinas; uma felicidade injustificada se espalhando pelo corpo, antes de ir embora subitamente, junto com a dopamina, adrenalina e as demais substâncias que nos fazem desconfiar de que realmente exista uma alma.

Há o que acorda depois do meio dia, a cabeça explodindo de ressaca, toma três litros de água, um litro de café, dois comprimidos de neosaldina, enquanto assiste seriados na TV a cabo, espreitando o mundo debaixo de um edredon.

Também há aquele que acorda cedo para não perder tempo, mas não tem compromisso algum; lê os suplementos dos jornais, toma café e depois almoça sem grande empolgação; toma café de novo e de novo, lembra dos amigos, dos amores, das viagens e pensa em ligar para alguém, chamar para sair, contar da vida, ouvir as novidades, muda de ideia; pega um papel e um lápis, esquadrinha a vida, nostálgico.

E não se pode esquecer daquele que foi dormir, sonhou com a infância e não acordou neste domingo; será achado amanhã, por algum parente ou vizinho, usando um pijama de bolinhas.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Paisagem com moscas

E o mundo torna-se uma enorme ferida purulenta. Qualquer movimento, mesmo a mais leve brisa, apunhala o sistema nervoso e termina com uma dolorosa explosão. As moscas levantam vôo e pousam novamente, deixando rastros de ovos aqui e ali. A gangrena se alastra.

domingo, 3 de julho de 2011

O ventre

O choro esganiçado era como um grito de liberdade. A mãe ficou em silêncio por alguns minutos apenas ouvindo o som irregular, aumentando e diminuindo de volume, intenso, de repente, baixinho. Mesmo quase sem força nenhuma, buscava energia para sacudir o volume quente e macio, fazendo-o chorar alto novamente.

O menino não sabia o quanto seu nascimento aliviava os tormentos daquela mulher que nascera só para ser mãe. Ela passara a infância e adolescência imaginando quão belo e perfeito seria o filho, o ser que viria ao mundo para jogar uma pá de concreto sobre aquele vazio dolorido que a incomodara desde sempre. Olhando bem para ele, percebeu que estava longe de ser como sonhara. Mesmo completamente banhado de sangue, era possível notar que faltavam-lhe alguns pedaços. Metade da orelha esquerda não ficara pronta, e os dedos dos pés haviam nascido grudados, feito os de pato. Os defeitos certamente fariam outras mães caírem em prantos, mas não a incomodaram.

Você é uma vitória, disse para o bebê. Não era uma vitória comum, mas a vitória de uma maratona.

Vangloriava-se da barriga desde cedo. Dizia, mesmo a desconhecidos: sabia que espero um bebê? Alguns sorriam, parabenizavam até, outros simplesmente ignoravam a intromissão. E isso logo no primeiro mês, o ventre ainda musculoso, chapado, o corpo ainda tão fresco de adolescente. O menino crescendo dentro dela era como se fosse um troféu. O pai orgulhava-se tanto, não fugia do clichê de escutar a barriga em busca de chutes, daqueles que permitem dizer que seria jogador de futebol, ou socos de pugilista, que fariam o pai sentir-se mais viril. Mas não, os esportes não eram o forte do moleque. Até o nono mês de gestação o pai esperou ali, mendigando um sinal, que nunca veio.

Os médicos disseram que era normal passar um pouco das 40 semanas. Havia vários casos relatados em que as crianças demoravam mais para se formar que o normal. Só que pouco tempo depois os mesmíssimos médicos estavam assustados, querendo tirar o menino dali de qualquer jeito.

Eu não quero meu filho pela metade, Ana bateu o pé.

Mudou de médico. Haviam feito a contagem errada, disse o doutor. Esse bebê está de 35 semanas. Se tivesse 50, já estaria morto. Mesmo estando certíssima sobre o tempo de gestação - afinal, ninguém pula 15 semanas - aceitou convenientemente aquela versão. Quando chegou a 40 semanas novamente, o doutor avisou que ia tirar, mesmo com o feto malformado. O pai, dessa vez, concordou. Esse menino tem de nascer, do jeito que estiver aí, vivo ou morto.

Não permitiria. Não ela, que esperara tanto, desde sempre.

A essa altura, Ana era apontada na rua pelas demais, uma aberração, com aquela barriga eterna, séculos de uma penosa gestação, sussuravam, maldita, amaldiçoada, pobrezinha, a coitada. Claro que preferia a galhofa à pena; principalmente quando tentavam convertê-la a essa ou aquela religião. Era tentador pedir a Deus que desse um fim em tudo aquilo, que colasse os pedaços que faltam e libertasse aquela criança. No entanto, ela nunca escolhia o caminho mais fácil.

Pegou as coisas da criança para sumir da vista de todos que a conheciam antes daquela gestação - incluindo o pai da criança que pensava em retalhá-la só para fugir daqueles olhares curiosos, enojados, assustados. Em sua nova vida, tentava usar roupas largas e se passar por uma obesa, uma gorda, uma balofa, dessas que caem de tanto comer, explodiria em um milhão de criancinhas. A tentativa de se empanturrar com chocolates e frituras para engordar o resto do corpo, tornar-se proporcional, fracassaram; estava condenada a ser gravida, uma sentença que continuava a consumir-lhe todas as calorias que ingerisse; a barriga era cada vez mais proeminente, mas o corpo continuava ostentando a magreza de sempre.

Para os médicos, sempre diferentes, ela continuava de 35 semanas. Trinta e cinto, vezes trinta e cinco, vezes trinta e cinco.

O que mudava era o olhar, inicialmente, de orgulho, mais tarde, de raiva, para as senhorinhas que puxavam assunto no ônibus. Que fase boa essa, como vai chamar? Ela não respondia mais nada, mudava de banco, fechava a cara, fingia estar dormindo. Por que para as outras tudo era tão fácil, uma benção, enquanto ela tinha de enfrentar uma maldição? Era fácil cair na autopiedade, mas ela resistiria.

Era por isso que aquele menino, mesmo faltando algumas peças, parecia uma conquista tão grande. Ele era o fim de uma gravidez de quantos anos? Dois? Quantos meses tinham dois anos? Perdera a conta. Eram mesmo dois anos? Ou cinco? Envelhecera tanto, a pele perdera o viço e o cabelo, o volume. Os meses nunca duraram tanto, noventa, cento e vinte dias, um ano inteiro.

Até que seria uma boa ter uma enfermeira sorridente para ajudá-la com o neném. Para dizer: mãe, não esqueça de fazer o menino arrotar; mãe, cuidado com a moleira. Agora, não havia ninguém para paparicá-la, só havia ela para repetir mãe, mãe, mãe. Naquele quartinho pequeno, sem fotografias, enfeites, roupinhas de criança, só havia um espelho meio sujo, uma penteadeira e a cama. O lençol coberto de sangue, todo tomado por um vermelho tão intenso que quase fazia desaparecer a faca de cozinha enferrujada.

E o menino chorava tão vivo que diluía todo o resto, a falta de luxo, a dor, a fome, o desamparo. Havia ainda o frio, uma fraqueza que mal lhe permitia segurar o rebento, as veias quase vazias de sangue, porém aquilo era nada, e a mãe não se continha de tanta felicidade.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Na cola da tragédia

De volta ao rastro da morte. Asfalto quente, rescendendo a sangue.
A vida de repórter policial já me ensinou muito. Você olha nos olhos do abismo.
Até que um dia você se pega caminhando entediado num açougue de gente. É hora de desaprender.

domingo, 12 de junho de 2011

Auto-retrato com teclado - texto sobre tela

A vida anda impressionista, preenchida de alto a baixo por essas pinceladas sombrias, as cores escuras que não consigo identificar. O ângulo não é dos mais favoráveis para ver o todo, limito-me às crostas e aos borrões. Sinto o cheiro da tinta fresca e algumas gotas salpicadas pela minha pele, na testa e nos braços, endurecidas sobre os pelos ralos. Respiro fundo e o veneno queima-me a boca, a garganta e espalha-se pelo meu pulmão. Ando para trás na tentativa de ver melhor.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Rotina de escritor no front da ficção

Todos os dias, acordo de manhã para escrever, como se tivesse de bater a catraca antes de sentar na mesa no meu quintal. Tomo café com pão, sintonizo na única rádio FM de música clássica (sem palavras para atropelar as minhas) e começo um processo quase psicográfico de escrita, sem pensar em nada, porém também sem espíritos apoiando-se nos meus ombros. Às vezes, sou surpreendido por uma boa prosa saindo do automático apertar de parafusos mentais. Em outras ocasiões, por mais elaborado que seja o pensamento, a frase não sai, morre lá mesmo, no cérebro, mais um cadáver pra empatar o caminho.

Já escrevi quase 60 páginas do que seria ou será o meu primeiro romance. O problema é que, assim como acontece na vida, a ficção não depende só de nós. Ela tem vida, pode ser abortada antes de nascer ou nascer defeituosa. A luta contra todas as coisas que podem dar errado é dura e, por vezes, nos faz querer desistir. Há três dias, ando muito desesperançoso com o meu trabalho, achando meus personagens rasos, minha trama tediosa, minha temática superficial. Espero encontrar saídas para esses problemas.

A ideia de toda boa obra de arte é criar estranhamento e busca por uma atmosfera diferente, que faça o leitor sentir-se desconfortável e ao mesmo tempo hipnotizado, como quando alguém se descobre apaixonado por alguém pelo qual jamais imaginou que nutriria esse tipo de sentimento. É isso que eu busco, mas às vezes o máximo que consigo é a sensação de se estar beijando um desconhecido em uma micareta.

Para desanuviar, aprender a olhar de longe a minha própria ficção, tento ler, ver filmes, ouvir música e conversar para desfazer os nós que eu mesmo causei na minha trama. Os escritores experientes dizem que imaginar o seu romance em pequenas cenas, cada uma com sua trama particular, é uma ótima saída. Apesar de isso funcionar na maioria do tempo, sempre há a sombra sobre minha cabeça da tarefa homérica que é escrever um romance. Lá em cima estão os dons Quixote e Casmurro para me lembrar que não basta apenas vontade para escrever.

domingo, 8 de maio de 2011

Busca

Durante a minha busca, várias vezes desisti de viver. Pulei de cima de um prédio de 50 andares e só o que consegui foi causar um tremor na cidade. Mordi fios de eletricidade e dei tiros na cabeça, me enforquei e tentei cortar meus pulsos, tomei veneno e passei fome por meses. Minhas tentativas de suicídio pareciam cenas de desenho animado, o gato que engole uma bomba e só fica chamuscado, PLOW. Não tenho calcanhar de Aquiles nem a criptonita do Super-Homem, sou todo fraqueza na minha armadura indestrutível.

sábado, 30 de abril de 2011

Vivendo sem operador de pare e siga

Eu vivo recomeçando. Geralmente, o início é sempre lá embaixo e, aos poucos, você vai subindo e entrando na zona de conforto novamente. Dizem que a vida está onde acaba a zona de conforto. Mas e quando a zona de conforto vira uma busca incessante por eliminá-la da sua vida? Complicado.

Eu só vivo recomeçando coisas porque vivo terminando outras. Mudo de vida, de casa, de trabalho, me afasto das pessoas que amo para me juntar a outras, parto-me ao meio, faço-me em retalhos na luta para me manter inteiro. É preciso aprender a continuar também. A juntar os cacos e lembrar que, mesmo sendo muitos, também sou um.

Quero aprender a hora de parar e a hora de seguir. Mas a vida não vem com sinais de trânsito. É um tráfego caótico, sem guardas, regras, mão ou contramão, cheio de sentimentos buzinando desesperados, de surpresas saindo desenfreadas das esquinas, lembranças amassando a sua lataria, o combustível quase acabando e nenhum posto de gasolina à vista. Tudo ficaria muito mais fácil se houvesse um único sujeito operando uma placa de pare e siga no nosso caminho.

Quando você toma a decisão de viver em movimento, não há mais um lugar seguro. O lugar para onde se volta buscando o que estava perdido vive mudando de endereço. Você chega lá e quem atende a porta é um sujeito de bigode, contrariado porque interrompeu o futebol para falar com um estranho estúpido. Não, não sei onde quem você está procurando foi morar e, agora, me deixe em paz.

Às vezes as coisas não fazem mais sentido. Isso geralmente acontece quando a gente as coloca à prova o tempo todo. Quando a gente as vira do avesso e as disseca para saber se elas são de verdade. O problema é que depois o que sobra na mão da gente são só restos do que tínhamos, uma perna, um dedo, uma orelha, um tufo de cabelos. A gente coloca tudo isso na mão, olha, finge que é a mesma coisa, mas não dá pra se enganar para sempre. Nessas horas, a gente percebe que a verdade tem prazo de validade. Quando passamos a procurar demais por ela, é sintoma de que já a perdemos, a essa altura ela já derreteu e seguiu para o ralo pra sempre.

O que fica disso tudo é que sempre podemos encontrar uma nova verdade. Só temos de torcer para que isso seja tão casual, tão gradativo, delicado, verossímil que não nos demos conta disso tão cedo. Porque o que vale na vida é aquela hora que a gente acha que não tem nada, mas tem tudo. Não há medo de perder nada, não há auto-crítica, há apenas algo que está no ar e que a gente sente na pele, uma coisa que faz os olhos brilharem e as coisas feias se esconderem da gente, e é tão bom estar respirando quando isso acontece.

domingo, 24 de abril de 2011

Anacrônica


Até aturaria o céu indecentemente sem nuvens
Essa cópia descarada da noite estrelada
O que me dói mesmo é essa coisa enorme, amarela e quase tocando o chão
Uma lua descaradamente nossa, que estacionou ali justo agora
Quando nós já não existimos além das cartas, dos álbuns de fotografias

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Das coisas que deixarei de fazer

Não vou mais flagrar as simpáticas lagartixas rastejando pela ruas cobertas de musgo ou acordarei com a certeza de ter um céu azul sobre minha cabeça. Não cruzarei mais o Rio Capibaribe durante a noite, embasbacado com as luzes das pontes refletidas em suas águas, nem garimparei os casarões antigos poupados pela especulação imobiliária. Não amaldiçoarei mais a feiúra da avenida Norte ou reclamarei do cheiro de mijo no Bairro do Recife. Não vou mais de mesa em mesa, revezando entre central, frontal e lateral, falando com um e com outro sobre desimportâncias, e muito menos tomarei cerveja meio quente no copo de plástico do bar do Seu Vital, no Poço da Panela, o bairro de aura mais fantástica do Norte e Nordeste, incluindo a Bahia. Não ouvirei mais as boas histórias contadas pela incomparável boemia pernambucana e não, nunca mais, serei acusado de carioca por alguém que não tenha o mínimo tino para diferenciar sotaques. Não farei mais piadas sobre maiores avenidas, pessoas ou qualquer coisa em linha reta da América Latina, e deixarei de me impressionar com a parcialidade rubronegra da crônica esportiva recifence. Os poemas de Carlos Pena Filho não se repetirão na minha mente enquanto passeio pela cidade dele e não fugirei mais para um passeio de bicicleta nos sobrenaturais domínios de Francisco Brennand. Está fora de questão, a partir de hoje, comer uma tapioca no Alto da Sé, em Olinda, um almoço no bar do Brilhosinho, naquele beco de Boa Viagem, ou um caldinho de feijão no Fernandos, o melhor da cidade, nos Aflitos. Depois de quase dois anos, entre idas e vindas, o Recife deixa de ser minha casa. Sentirei falta de tudo, das pessoas e das coisas, demais. No tabuleiro da minha geografia sentimental, sempre deixarei um peãozinho amarelo de guarda sobre o Recife.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Desmantelo

Para Diana

Meu desmantelo não é azul
Qualquer cor tivesse seria insensato
Na despedida do amarelo-Recife, desbotado
Pela total falta de luz

Meu desmantelo não é azul
Mesmo que me dilua no sorriso dos retratos
Que perca o mar de vista, afogado
Que troque meu norte pelo sul

Não, meu desmantelo não é azul
É quando tudo pela sombra foi tragado
Da ausência do teu olhar assentado
A velar meu sonho nu

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Poema sem nome

Começa como quase tudo começa
Da pequenez dos gestos automáticos interrompidos
O choque dos dedos desprotegidos contra uma pedra
Uma intromissão que se repete até virar vício
A liberdade de mergulhar na falta de futuro
Que faz-se desespero ao vislumbrar o fim da linha
A chama que cresce mesmo sem oxigêncio
Que desafia a física, brilha em pleno dia
Tamanha é a habilidade em ludibriar os limites
Que passa a alimentar-se do impossível para existir
Como respira, esculpe o tempo e o espaço
Encurta ou estica, com naturalidade infantil
Até que a translucidez engrosse no pó do real
O sofá é o padrinho, a cobrança é a madrinha
O sonho é um enfeite na estante