terça-feira, 4 de maio de 2010
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Hiato
segunda-feira, 12 de abril de 2010
O cavaleiro do Poço da Panela
PS. Vejam a galeria de fotos que eu e Diana fizemos do Poço da Panela em http://picasaweb.google.com.br/artur.rodrigues/PocoDaPanelaPorDianaEArtur
sexta-feira, 9 de abril de 2010
A foto perdida e a briga do século

Esse dia não foi um dia comum. Não foi só um monte de adolescentes jogando futebol, bebendo refrigerante com cachaça vagabunda e procurando, em vão, conhecer alguma menina para depois contar vantagem sobre o que não fizeram. Foi muito mais que isso: esse foi o dia da briga do século. OK, houve brigas maiores, principalmente se incluirmos torcidas organizadas e as guerras mundiais nessa conta, mas foi a maior briga de que me lembro ter participado. (Eu, que nunca fui de brigas, eu, que na categoria individual tenho um cartel de duas lutas, com uma vitória e uma derrota, ressaltando que a vitória se deve principalmente a um tropeço do adversário em uma pedra.)
Alguns dos que estão na foto saíram para dar uma volta, procurando garotas. Sabendo que a ronda seria infrutífera, resolvi continuar a beber, provalemente, a minha pinga com groselha. Pois bem, os que saíram atrás de mulher acabaram encontrando confusão. Voltaram correndo para buscar ajuda e acharam um monte de bêbados prontos para trucidar o primeiro que aparecesse. Ali no meio, com meu cartel insignificante, segui a turba.
Éramos muito mais numerosos que nossos inimigos. Éramos muito mais barulhentos que eles. Éramos muito mais briguentos que eles. Pelo menos, os que estavam comigo eram. Um dos nossos entrou sozinho no ônibus dos caras e foi jogando os inimigos para fora. Outro grandalhão pegava os pobres coitados pelo pescoço e os esganava. Vendo tudo isso, eu me animei. Me achei na obrigação de participar daquele episódio de bravura e idiotice juvenil.
Depois disso, assisti a outras tantas brigas, algumas das quais com finais trágicos, com gente baleada, sangue no chão, mães chorando, mas não me meti em nenhuma delas. Pensando bem, talvez o principal culpado pelo meu pacifismo atual tenha sido aquele cotovelo. Aquele cotovelo anônimo me fez ver que nasci para ser testemunha, não protagonista das brigas. Pode ser que isso me renda menos glórias. Pode ser que elimine todas as minhas possibilidades de ser um Aquiles ou um Ulisses, um Hércules ou um Sansão, um Wolverine ou um... Mário Bros. Em compensação, causa muito menos hematomas. Hoje em dia, para mim, isso está mais do que bom.
quarta-feira, 31 de março de 2010
A despedida do rei
Continuarei sem nada pedir. Não receberei, porém, nada menos do que quero. A medida das coisas é a medida do meu desejo. É-me preferível o vazio à satisfação pela metade. Minha cabeça não processa metades. Não me lembro de me flagrar querendo tomar meia taça de vinho ou comer meio pedaço de pão. Admito que, em momentos de covardia, cheguei a agradecer metade como se fosse o dobro ou o triplo. Mas tenho a desculpa justa de poder chamar essas ocasiões de diplomacia.
Posso até lidar com os excessos, mesmo que seja encharcado por eles, mas perdi a paciência para a falta. Pois ela, a vida, que me cativou pelo exagero, passou a administrar-me, de repente, pelo regime da escassez. Caso a privação fosse temporária, ocasional, só serviria para ressaltar as benesses de um cotidiano marcado pela abundância. Agora, quando o muito só aparece na insustentabilidade do pouco, lembra uma cereja sem bolo, flutuando no ar sem razão alguma de existir.
Sou eu a cereja sem bolo. Ao ver a coroa separar-se da minha cabeça, depois de uma longa vida a serviço do povo, minha coroa levada pelas mãos sujas daqueles barbudos grosseiros, desses bárbaros travestidos de revolucionários, fico com mais pena dos meus súditos que de mim. Nesse momento de esperança, de ilusão, transfiguraram-se em mim. Cada um em sua choupana pensando: sou a nova majestade. Todos eles degustando lavagem com a arrogância de quem está prestes a se deliciar com lagosta e vinho. Não desconfiam, os pobrezinhos, que minha coroa só cabe em uma cabeça de cada vez; e só encaixa direito em uma, a minha, não importa quantos se achem donos dela.
Nesse catre, não tocarei em nenhuma comida que não tenha sido feita pelo meu cozinheiro e não beberei nenhuma bebida que não venha da minha adega. Estando meu cozinheiro preso e minha adega sendo violentada por paladares bárbaros, definharei de cabeça erguida, sem dar a eles o gosto de transformar minha queda em um espetáculo. O show será dado pelos próprios barbudos revolucionários, que matarão uns aos outros na tentativa de sentar no meu trono até não sobrar mais ninguém.
O contra-ataque dos meus cavaleiros, mais hora menos hora, deve chegar até aqui. Não pretendo esperá-los, porém, sob pena de perder meu tempo e dignidade. É bem provável que eles percam batalhas e acabem nas masmorras. Alguns podem acabar juntando-se ao inimigo, o que seria muito doloroso de se ver _ cavaleiros guerreando ao lado de soldados amadores?
A essa altura, a única coisa que aceitaria deles, mesmo que abaixo do meu nível de exigência, seria uma mulher. Não precisaria ser linda, bastaria que fosse jovem, limpa e que não fosse a rainha _ colocada em outra cela, no único gesto de hombridade por parte dos bárbaros. As câmeras por todos os lados tirariam a privacidade durante o ato, mas eles certamente aprenderiam alguma coisa vendo a cópula real. Não, por mais selvagens e despreparados que eles sejam, jamais me dariam essa oportunidade _ certamente o populacho ficaria impressionado com a minha performance e me levaria nos braços de volta ao trono! O que eles querem, acima de tudo, é o contrário: desmontar minha imagem pública, com o bisturi sempre eficaz das ilhas de edição. Quem sabe montar um filme mostrando minhas últimas horas de vida, minhas intimidades, meus momentos de fraqueza?
Se depender de mim, perderão seu tempo. Mesmo no único trono que me resta, trato de manter a compostura que nos diferencia. Ao fim de tudo, só me arrependo de não viver o suficiente para ver no que eles se transformarão. Vira-latas com jubas de leão, talvez? Pastiches de rei, com roupas de soldados? Tivesse a companhia de um dos meus magos, poderia ver o futuro em qualquer talher de prata. Mas queimaram-me os feiticeiros e roubaram-me a prata, portanto, resta-me apenas a imaginação para rir deles durante tempo que ainda tenho.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Nós, os hamsters e a rat race

sábado, 27 de março de 2010
Reset mental
terça-feira, 9 de março de 2010
Duas rodas e a cidade em extinção
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Um folião paulistano no Carnaval de Pernambuco
A rua é como se fosse o salão de festas, todo decorado. O bolo, aqui no Recife, é um galo enooorme, no meio da ponte Duarte Coelho, sobre o Rio Capibaribe. Ninguém come o galo, mas não faltam galinhas para quem gosta...
O espírito está por toda parte, por Pernambuco todo. Mas se o Carnaval tivesse um endereço certamente ele seria o Sítio Histórico de Olinda. Sempre me perguntei por que os portugueses resolveram construir uma cidade num lugar tão alto, cheio de ladeiras. Dá trabalho pra ir na padaria, no mercado, imagina voltar para casa bêbado com tanta subida pra subir... Pois é, descobri que Olinda foi criada para o Carnaval. E que ladeira, ao som do frevo e com um latona gelada de cerveja na mão, vira descida. Eu, um notório preguiçoso, subi várias vezes a mais cruel das subidas, a Ladeira da Misericórdia, como se estivesse flutuando.
Seria muito dizer que a gravidade desaparece no Carnaval de Olinda? Não. Tanto que me pendurei em um dragão voador, o mascote do bloco Acho é Pouco, criado por comunistas doidões na época da Ditadura e hoje administrado só pelos doidões mesmo. O bordão do bloco é "Eu acho é pouco! É bom de mais! Eu acho é pouco! É bom demais", cantado na noite de terça-feira, poucas horas antes da tal "quarta-feira ingrata, chega tão depressa, só pra contrariar..."
Pois é, estava esquecendo do melhor: em Olinda, axé music é proibido. Quer dizer, é proibido passar com trio elétrico, o que de qualquer maneira afasta os cantores de axé. O frevo, que todo mundo canta no Carnaval, é uma música muito antiga. Parece que ninguém mais faz frevo e, se faz, ninguém canta antes de a composição fazer 50 anos. É que nem vinho bom...
Ahhh, não tem abadá, aquela camiseta que custa 300 reais na Bahia. Aqui, as pessoas pensam o ano todo nas fantasias que vão fazer. Eu, paulista que deixa tudo para a última hora, não pensei. Peguei uma roupa amarela, umas caixas de Sedex e me fantasiei de Sedex 10, só para não passar vergonha. Mas tem gente com fantasias geniais pela rua. No domingo, sai o bloco Enquanto Isso Na Sala de Justiça, em que todo mundo se veste de super-herói. Tem desde X-Men a gente que inventa outros heróis, como supermercado, superficial, superado...
Tem esses blocos tradicionais, mas tradição não é quesito desclassificatório no Carnaval de rua. Teve um sujeito que foi trocar a porta de casa durante o Carnaval. No trajeto para levar a porta nova, ganhou um montão de seguidores. Virou um bloco, chamado A Porta. Tem orquestra, estandarte e dezenas de adeptos que saem juntos há mais de 10 anos.
No jornal em que trabalho, é proibido usar a palavra irreverência nas matérias sobre o Carnaval, desgastada pelo uso incessante em TODAS as matérias nos anos anteriores. Mas, devo admitir, que é a palavra perfeita para definir esse espírito. No ano que vem tem mais irreverência. Agora, o jeito é se conformar com as festas pós-carnavalescas que ainda restam. Me disseram que uma delas se chama Não Acredito Que Te Beijei.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
A prostituta dos sentimentos

Pois é, pois é. Às 19h de anteontem, eu, com baterias de fogos de ódio estourando no meu cérebro, daquelas que levam alguém a atropelar velhinhas que atravessam a rua vagarosamente, peguei minha bicicleta e saí por aí. Rodei por alguns quilômetros. Andei pelas nostálgicas paragens do Poço da Panela e Apipucos (digite no Gooogle Images, please). Chacoalhei pelo chão de paralelepípedos. A cada pedalada, lá estava ela, a Dopamina, sendo bombeada para o meu cérebro saudoso-de-nicotina-açúcar-pão-chocolate-purê-de-batata-arroz-gororoba-com-tudo-misturado. Horas depois, quilômetros mais tarde, lá estava eu, satisfeito, sem motivo algum. Ou satisfeito por enxergar em miniatura os mesmos motivos que me faziam chorar. Ou por visualizar de maneira mais nítida as razões que antes eram microscópicas demais para me fazer sorrir.
Isso me leva à seguinte questão: o que pensamos, vivemos, sentimos, o que acontece com a gente, a sorte ou azar têm alguma importância, sem Ela, a Dopamina? Um sujeito que tem tudo na vida, com um déficit Dela, é mais feliz que outro, miserável em saúde, amigos, grana, rico apenas na quantidade de Dopamina circulando pelo cérebro? Se uma substância química (mal e porcamente produzida pelo nosso corpo) é o segredo da felicidade, nossa percepção do mundo é muito mais maleável do que jamais sonhei. Diante dessa (ir)realidade, a felicidade nada mais é que a prostituta dos sentimentos, a mais volúvel das guloseimas.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
O Galo
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Nuvens, cantem o barulho da chuva

terça-feira, 19 de janeiro de 2010
À deriva
domingo, 17 de janeiro de 2010
Psicografia
Idéia nenhuma. Idéia nenhuma passa pela minha mente. É só um poço, cheio de ecos e estampidos de memórias. Sonhos que pedem socorro, amordaçados, eles parecem ridículos, ridículos. E aqui estou psicografando, psicografando esse vazio que só pode vir do além. Dramas longínquos cospem desaforos na minha cara. E eu escrevo a lápis, a lápis.
Acendo dezenas de cigarros e sinto o meu pulmão se esvaindo e o acendo também. Acendo uma tocha e boto fogo na casa e saio apagando as faíscas só pra passar o tempo.
Eu espero por ele. Sempre tenho que esperar. Mas ele nunca chega na hora, jamais. Diz que o tempo é muito diferente lá de onde vem. Diz tudo isso muito galantemente. De uma forma que faz toda essa minha impaciência parecer criancice. Me masturbo só pra passar o tempo também.
O melhor é ir até a cozinha e esquentar um café. Se ele vier agora terá de esperar, ou toma café comigo, ou nada feito. No ínfimo espaço de tempo em que coloco a água para esquentar, vejo minha vida passar sob uma trilha sonora de estalos até que me sinto esguio e poderoso, flutuando no gozo de alguém que não cheguei a conhecer. Eu tenho vontade de voar e o meu rabo rema vertiginosamente. Não posso controlar minha velocidade. Sou o mais rápido, não posso parar. Mas eles estão me alcançando, então eu volto, volto, volto, até uma caverna escura que acaba numa explosão. Meu visitante, certamente, tem noção do que é essa plenitude, a plenitude do big-bam, dos drive-ins, das coxias, dos cantos escuros.
Meu café ficou horrível.
Fico relendo os capítulos anteriores. Magníficos. Pena que dependo dele. Gostaria eu de poder fazer isso quando quisesse. Ligaria um interruptor no meu umbigo e escreveria as sentenças mais criativas e trama mais envolvente se encadearia sob custódia da irracionalidade dos meus dedos ágeis, que trotam irregulares pelo teclado do computador. Mas ele não usa computador. Só escreve a lápis. Não consigo, sinceramente, me conformar que um ser tão evoluído não tenha se acostumado com o computador.
Lembro que da primeira vez ele insistiu que eu comprasse uma pena e um tinteiro. E eu ainda não fazia idéia de como ele podia ser cabeça dura. Ainda estava pasmo com o abismo de possibilidades que ele me abriria com aquele gesto estranho que sempre faz. Uma coçada no nariz, sem o uso das mãos. Um cacoete deveras interessante, tenho que admitir. Ouço um barulho lá embaixo, mas não é ele. Ele chega sem barulho algum, sem o menor aviso, e envolve o ar com seu cheiro de eternidade. Sei que ele está perto, posso senti-lo. Então desço e vou preparar o seu jantar. A noite está gelada e os cachorros latem. Abro o quartinho dos fundos e acendo a luz. Dessa vez arrumei-lhe um belo jantar. Não há motivos para reclamações. Levanto aquele corpo amolecido e carrego-o nos ombros. Suas pálpebras piscam, mas sei que não vai acordar. Subo as escadas e coloco-o na cama - sinto sua presença no ar. As paredes mudam de cor. Minha mão coça para escrever. Meus nervos sabem muito bem, agora, o caminho para posteridade.
Como sempre, está muito bem vestido. Faz um sinal de aprovação ao olhar sua presa em cima da cama. Digo-lhe para retribuir em mais um capitulo fenomenal. Mas ele já está ocupado, devorando sua refeição. Come sem fazer barulho e chupa as entranhas com gosto. Rói cada osso e, como sempre, me espanto com o jeito com que enfia o fêmur pela garganta, feito um engolidor de espadas.
Encosta ao meu lado, lambendo os beiços finos, e elogia minha escolha, sem abrir a boca. Poderia explicar o trabalho que me deu, mas ele sabe, sabe de tudo. Posso sentir toda sua sabedoria quando coloca as mãos sobre meu ombro e eu começo a escrever vertiginosamente. Página após página é como se fosse o jorro inicial, como se ele tivesse o dom de arrebentar a comporta dos pensamentos do universo e todos estivessem ali, à minha disposição. As horas passam e eu vou me sentindo cada vez mais pleno e as páginas vão se empilhando à minha frente. Até que me sinto vazio, a comporta se fecha, e eu caio no choro, num choro de soluços desesperados, na abstinência de sua presença. Apago sobre as folhas, com lápis na mão, apago como se estivesse morto.
Acordo grogue, e sinto ânsia do cheiro acre que desprega do quarto. Minha cama desarrumada, meus pensamentos também, a tentação do suicídio na primeira mijada, o banho quente que parece lavar minha alma, se é que eu ainda tenho uma. As folhas empilhadas.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
AS BELAS DO TRÁFICO *

Traficantes nigerianos viram na jovem a chance de lucrar mais de 1.000% ao levar cinco quilos de pasta-base de cocaína do Brasil para a Itália. Mulheres bonitas, de classe média e sem envolvimento com o crime, como Georgeta, são alvos cada vez mais frequentes dos aliciadores, diz a polícia. “Os traficantes procuram pessoas acima de qualquer suspeita, de boa aparência, que não despertem desconfiança”, diz o delegado do Departamento de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil Luiz Andrey.
“Foi a tentação que me trouxe até aqui”, conta a romena, em português quase perfeito, aprendido no Brasil. Por tentação, entenda-se a chance de ganhar 2 mil. Mesmo recebendo mesada da mãe que foi para a Itália trabalhar para pagar seus estudos, Georgeta arriscou. Viajou a Itália, São Paulo e só viu o mar da costa pernambucana pela janela do avião. Acabou presa pela Polícia Federal (PF) no Aeroporto Internacional do Recife, há oito meses.
Vestindo calça jeans justa, uma regata branca e maquiada, ela e outras duas reeducandas, como preferem ser chamadas, despertaram olhares de inveja – e até de cobiça – dentro da Colônia Penal Feminina do Recife, na última quarta-feira, durante sessão de fotos. “A gente já sofre tanto aqui dentro que se arruma só para mascarar a tristeza”, diz Georgeta, que tenta manter a beleza mesmo sem os cremes e xampus que enchiam a penteadeira de sua casa, em Suceava, na Romênia. A maior saudade, porém, não é dos cosméticos, mas da família. Mesmo ganhando pelo trabalho como secretária na colônia, Georgeta ainda recebe mesada da mãe.
Vestindo um curtíssimo vestido preto, A.C., 24, também faz da vaidade seu consolo. O salão de beleza da colônia dá conta da escova no cabelo e da pintura das unhas, que paga com o salário que ganha trabalhando na lanchonete, mas ela ainda sente falta da depilação. “Só tem o básico aqui”, diz a moça, que, por necessidade, trocou a cera quente pela gilete na prisão. Antes de ser presa pela PF com dois quilos de cocaína, a então aluna de pedagogia transportava a droga com a confiança de quem nunca havia sido parada pela polícia. “Acho que entrei nisso por causas das amizades. Era muito dinheiro”, justifica-se.
Patricinhas do tráfico, Georgeta e A. são exceções. Entre as detidas por esse tipo de crime, a maioria é pobre e tem na sua história um amor bandido. “Os criminosos, mesmo os assaltantes, passam a lidar com tráfico quando são presos. Isso porque quem vai correr o risco são terceiros, que muitas vezes são mulheres”, afirma o delegado Carlo Marcus Correia, da PF. Essa estratégia pode ter ajudado no aumento de 233% da população carcerária no Estado, que passou de 300, em 2002, para cerca de 1.000 este ano. Entre essas detentas, uma em cada seis foi detida por tráfico.
O livro Amor bandido - as teias afetivas que envolvem a mulher no tráfico, da professora da Universidade Federal de Alagoas Elaine Pimentel, confirma a tese. “Não é só uma questão econômica. As mulheres entram para o crime também por afeto, pelo homem que amam, pela família”, afirma. Ela revela que, ao traficar, há mulheres que acreditam não estar cometendo crime algum. “O discurso mais comum é: ‘Crime é matar e roubar. Vendo a minha droga, só compra quem quer’”, diz.
A história de Ana Paula Silva, 25, parece ter saltado do livro de Elaine. Ela apaixonou-se por um criminoso aos 14 anos. Acusado de assalto e homicídio, o marido passou só o primeiro dos 11 anos do casamento em liberdade. “Nunca quis abandoná-lo para não ser covarde. Não precisava do dinheiro, só queria ajudá-lo”, diz. Com dois filhos e uma década após o início do romance, foi presa no fim de 2009. “Escutas me flagraram falando com meu marido no telefone. Eu não traficava diretamente, só levava um telefone ali, fazia depósito bancário”, conta ela, hoje a padeira da colônia, que garante ter posto um fim no amor que a levou para trás das grades.